Depois de vários anos sem se apresentar como problema econômico relevante, pode-se dizer que 2008 foi o ano da inflação, tanto no Brasil quanto no mundo. No Brasil, em especial, a preocupação das autoridades monetárias levou a uma nova escalada dos juros básicos. Até que, na semana passada, depois de vários meses de más notícias inflacionárias, apareceu uma boa nova.
“A redução do ímpeto do IPCA, que evoluiu em julho menos do que o previsto e muito abaixo do aumento registrado em junho sobre maio, 0,53% contra a medida anterior de 0,73%, corrobora a distensão que já se constatara no desempenho do outro índice de inflação também relevante, o IGP, cuja primeira prévia em agosto indicou deflação”
Antônio Machado, Correio Brasiliense, 10.08.08
As causas do novo surto inflacionário interno podem ser encontradas no grande aumento mundial dos preços das commodities (ver a propósito os números GH/694 e GH/699). Na base deste aumento de preços está o enorme crescimento da demanda pela incorporação de mais de dois Brasis ao mercado de consumo mundial nos últimos anos. Na liderança deste movimento estão China e Índia que têm populações gigantescas.
“Segundo o Banco Mundial, entre 1990 e 2004, 500 milhões de pessoas saíram da miséria e da pobreza. E todas elas estão hoje aptas a comer mais e comprar.”
Sonia Racy, TAM nas Nuvens, agosto/2008
Comer e comprar mais significa aumento da demanda direta sobre alimentos e matérias-primas, inclusive sobre o preço do petróleo que, embora tenham recuado um pouco, atingiu o pico de US$ 145 o barril. O remédio monetário clássico para combater alta de preços, sobretudo num país que adota o sistema de metas de inflação como Brasil, é o aumento dos juros básicos da economia, coisa que o Banco Central, ao que deixa transparecer, não vai desistir de fazer tão cedo.
“O presidente do BC, Henrique Meirelles, compara a inflação à malária: tratamento tem efeito colateral, mas evita a doença que pode matar.”
Revista Dinheiro, 13.08.08
O problema está justamente aí: com os últimos aumentos, o Brasil já voltou à liderança mundial dos juros altos. Isso tem impacto direto sobre as taxas de crescimento, em especial quando a comparação é feita com os países emergentes dos quais somos parte integrante.
“Diante de uma inflação planetária, a situação brasileira é melhor que a da maioria dos países emergentes. Certamente melhor que a dos nossos ‘padrões’ comparativos, os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China). (…) O problema é que nossa taxa de juro real de curto prazo é hoje da ordem de 7% ao ano, a indiana é de 4,5% e a russa e a chinesa são negativas. Em compensação, nosso crescimento médio anual em 2006/2007 foi de 4,6%, o russo de 7,8%, o indiano de 9,5% e o chinês de 11,3%.”
Delfim Netto, coluna de 06.08.08
Como o aumento da taxa de juros só tende a se refletir no crescimento alguns meses depois do início da escalada, é bem possível que o Natal deste ano seja bem menos exuberante do que foi o do ano passado, considerado o melhor da década.
Será que não é “ligação direta”?
Todos os anos de eleições, a inflação sobe.
E com as eleições americanas, sobe o valor das chamadas “commodities”.
Se a inflação financeira aparece devido à inflação de demanda, quem ganha é sempre e, invariavelmente, o vendedor, que não aumenta seus custos proporcionalmente, e fatura mais.
Será que a alta de preços não está diretamente ligada ao financiamento das campanhas? Ou seja: quem financia paga com o excesso de faturamento conseguido pela inflação?
Se assim for, quem financia mesmo são os compradores, ou seja, a população consumidora (nós todos, claro)!!!
E como isso interessa a todos os políticos, eles criam desculpas das mais diversas origens, para “tapar o sol com a peneira”.
Esse país é mesmo uma maravilha…Ai! Que medo!
Ouvi, hoje pela manhã, no programa da Rádio Francesa para o Brasil, que, talvez, o Brasil não fosse tão afetado pela crise em razão das demandas significativas dos paises emergentes (China, India foram explicitamente citados). Vocês concordam?
Bom dia.
Não creio que este aumento da inflação tenha a ver com financiamento das campanhas, muito embora possa ter alguém que se beneficie. Acredito que tenha tudo a ver com o aumento do consumo no mundo, pois como é perceptível, a globalização levou riqueza onde não havia, ou seja, quem vivia na miséria por não ter um emprego, hoje conseguiu tê-lo e, com isto, consegue comprar comida para sua família, e não são poucos, como sabemos.