Depois de uma semana de pavor com quedas abissais, as bolsas se recuperam e dão um refresco na crise. No conjunto, as bolsas do mundo perderam US$ 6,2 trilhões, o equivalente a seis PIB anuais do Brasil, em apenas uma semana. Depois da ação coordenada inédita e trilionária dos países da zona do euro, no fim de semana, as bolsas se recuperam mas o estrago já foi feito.
“A crise financeira que começou pelo mercado imobiliário de alto risco dos EUA já se transformou numa crise profunda e global, destruiu uma quantidade fabulosa de riqueza e deverá atingir de forma mais ou menos extensa, desigual e prolongada, a economia real dos EUA e de todos os países do mundo.”
José Luís Fiori, professor da UFRJ, Valor, 08.10.08
Se ainda havia alguma esperança de que o Brasil escaparia da turbulência, a semana foi eloqüente. A Bolsa de São Paulo teve seu pior período semanal desde a crise asiática de 1997. Chegou a suspender três vezes o pregão, depois de cair mais de 10%. No total perdeu, desde 20.05 quando atingiu o máximo de 73.517 pontos, mais da metade do PIB brasileiro (R$ 1 trilhão). Além disso, o real chegou a R$ 2,50 por dólar, numa desvalorização de quase 50% em poucas semanas (em 01.08.08 estava em R$ 1,56), acendendo a luz amarela no painel de controle, mesmo depois da recuperação deste início de semana.
“Se a febre em nossa economia estava na casa dos 38 graus, com o choque do câmbio chegou a atingir na última quarta-feira [08.10.08], mais de 40 graus.”
Luiz Carlos Mendonça de Barros, F.S. Paulo, 08.10.08
Além do mais, houve, estrangulamento do crédito e queda do preço das commodities. Isso já sinaliza dificuldades importantes na economia nacional em 2009. O cenário de crescimento igual ao de 2008 já é coisa do passado, mesmo com a recuperação parcial do mercado financeiro.
“2009 vai ser um ano muito difícil para a economia brasileira. Vamos ter que reaprender a conviver com um país que vai crescer menos, com mais inflação e com um déficit que deve voltar a incomodar.”
José Alberto Lamy, GloboNews, 11.10.08
Para piorar o quadro, várias grandes empresas nacionais do porte da Sadia, Aracruz e Votorantim foram pegas no contrapé e amargaram enormes prejuízos em operações de derivativos cambais, o que aumentou mais ainda a pressão sobre o dólar. Vale a pena ver o alerta do ex-presidente Sarney que já esteve, em outros tempos, no olho do furacão econômico.
“A crise atual, que há um ano era uma sombra, há seis meses era possível, há três, pequena e controlável, hoje é autônoma, com dinâmica própria (…) Para domá-la, muita água vai passar por debaixo da ponte.”
José Sarney, Folha de S. Paulo, 10.10.08
Pelo menos por enquanto, a época da bonança parece ter terminado. Isso requer, mais uma vez, a volta da perícia de pilotagem em tempo difíceis. No nível a que já chegou, a crise aumentou muito a exigência para a gestão do governo e das empresas, como bem destaca o diretor do Woodrow Wilson Center.
“Acabou a fortuna. Agora vamos ter que viver da virtude.”
Paulo Sotero, GloboNews Painel, 12.10.08
A impressão que se tem é que grande parte da riqueza que a sociedade mundial ostentava, notadamente os países ricos, não era senão uma torre de babel que aos poucos está desmoronando para que cada país, cada empresa e cada pessoa em particular caia na real.