Barack Obama tomou posse na semana passada, como 44º. presidente do Estado Unidos da América, perante uma torcida de 2 bilhões de telespectadores e a audiência presencial recorde de 2 milhões de pessoas nas ruas de Washington D.C. Eleito para enfrentar a pior crise econômica da história recente dos EUA, o novo presidente é depositário de um enorme capital de esperança.
“Políticas monetária e fiscal adequadas são apenas condições necessárias para a superação da crise. Para que o sistema econômico volte a funcionar, é preciso restabelecer a confiança. Ou seja, é preciso que uma liderança confiável e suficientemente enérgica convença os agentes a inverter sua expectativa deflacionária, como fez Roosevelt em 1933. É por tudo isso que a esperança do mundo está hoje sobre os ombros de Obama.”
Delfim Netto, revista Carta Capital, 28.01.09
De fato, a esperança se justifica porque o desafio econômico de Obama é muito grande. Em 2008 os EUA perderam 2,6 milhões de postos de trabalho, o maior número registrado desde o final da Segunda Guerra Mundial quando o pleno emprego proporcionado pelo esforço bélico deixou de existir.
“Eis o cenário vislumbrado das janelas da Casa Branca: a economia real com risco de encolher até 5% em 2009 e o mercado financeiro encerrado numa crise que parece insolúvel.”
Ivan Martins, jornalista da revista Época, 26.01.09
O remédio pensado por Obama e sua equipe para resolver esse problema de grandes proporções é um pacote de incentivos equivalente à metade do PIB brasileiro de 2008.
“Na falta de soluções fáceis, Obama decidiu colocar em operação um audacioso plano de salvação da economia que prevê gastos de quase 850 bilhões de dólares. (…) o maior da história dos Estados Unidos e deverá gastar o equivalente a 5% do PIB do país ao longo de dois anos.”
Tatiana Gianini, jornalista da revista Exame, 28.01.09
Mesmo essa audácia, diante da gravidade do problema, é considerada insuficiente por analistas do quilate do economista e célebre articulista do New York Times Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia de 2008, em excelente entrevista ao Jornal Valor Econômico.
“O problema é o tamanho da crise que Obama tem de enfrentar (…) Não estou tão otimista quanto gostaria de estar. (…) Na verdade, no curto prazo, estou muito nervoso. (…) Espero estar errado quanto a isso, mas acho que provavelmente vamos ter um plano de recuperação da economia nos próximos meses que será insuficiente, mais uma vez.”
Paul Krugman, jornal Valor Econômico, 23.01.09
Insuficiente ou não, é preciso considerar que, apesar das pesquisas darem conta de um prazo de tolerância maior por parte da população, o capital de esperança investido em Obama tem prazo de validade e, por isso, o tempo urge para ele como muito bem destaca o colunista do New York Times David Brooks.
“Nessa época do ano que vem, ele será ou um grande presidente ou um presidente falido.”
David Brooks, revista Exame, 23.01.09
Também estou pessimista! Obama é boa praça. Certamente, um agente econômico confiável. O problema é que os agentes econômicos não confiam uns nos outros, embora todos, ou quase todos, confiam no Obama. Neste contexto, mesmo um cara, por mais poderoso que seja, cheio de boas intenções não consegue facilmente reverter um clima de total desconfiança. E isso acontece porque boa parte dos ditos “players” do mercado não tem caráter algum. Ou seja, a crise de desconfiança se acentua quando o ambiente de negócios inclui muita gente inescrupulosa, que agora só pensam em encontrar maneiras de transferir a crise para os outros, principalmente os SC’s (Sem-Capital). Que me desculpe o presidente Obama, mas, como dizem os evangélicos, “só Jesus na causa”!