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Num programa especial levado ao ar no domingo passado, o canal GloboNews tratou da crise que assola a economia como “os seis meses que abalaram o mundo”. A data inicial referida é o dia 15 de setembro de 2008 quando ocorreu a quebra do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers, a venda do banco Merrill Lynch para o Bank of America e o salvamento pelo governo dos EUA da AIG, a maior seguradora do mundo.

“A quebra nos EUA do banco de investimento Lehman Brothers e a venda do Merrill Lynch para o Bank of America têm um sentido parecido para o mercado financeiro norte-americano ao do colapso, em 11 de setembro de 2001, das torres gêmeas do World Trade Center.”

Fernando Cazian, Folha de S. Paulo

Desde então, as bolsas de valores caíram cerca de 50% em todo o mundo, inclusive no Brasil. Simultaneamente, os EUA, a Europa e Japão, as três maiores economias do mundo, entraram em recessão. Os governos ao redor do planeta já injetaram algo em torno de US$ 15 trilhões no sistema financeiro e na tentativa de reativar a demanda em queda. Até agora, nada parece surtir efeito, com a crise ainda não parecendo dar sinais de quando vai chegar ao fim. E a pergunta de todos é justamente essa: quando a crise vai acabar?

“A crise começa a acabar quando os ativos pararem de cair.”

José Rubens de La Rosa, GloboNews Especial, 15.03.09

Quando isso acontecer, a crise, como dizem os economistas, estará “precificada” e os recursos que não foram destruídos e fizeram o “vôo para a qualidade” em direção aos títulos dos Tesouros nacionais, em especial ao dos EUA, começarão a retornar lentamente para aplicações “menos” seguras porém mais atraentes, como é o caso, por exemplo, da bolsa brasileira. Quando isso vai acontecer e quanto tempo vai durar para a situação voltar à “normalidade” é a pergunta que hoje em dia deve estar valendo milhões de dólares. Ninguém, na prática, tem demonstrado ter, sequer, a mais pálida idéia, com muito mais perguntas não respondidas que respostas.

“O fato é que o mundo hoje é um laboratório a céu aberto. E que pairam, no ar, perguntas sem respostas, como: qual será, afinal, o verdadeiro tamanho da recessão mundial? Quanto tempo vai demorar para tudo se arrumar?”

Sonia Racy, O Estado de S. Paulo, 12.03.09

Em meio às dúvidas, todavia, aparecem algumas certezas preocupantes como é o caso da recessão brasileira (queda de 3,6% do PIB no último trimestre de 2008 em relação ao trimestre anterior). O número, com certeza, levou o Banco Central a promover a queda recorde da taxa Selic de 1,5% na última semana. O curioso é que, mesmo com essa redução, o juro básico real (descontada a inflação) continua sendo o mais alto do mundo (6,5% contra 6,2% da Hungria, o segundo colocado). Mesmo assim, o país dificilmente escapará da recessão técnica (dois trimestres consecutivos de PIB negativo), já que, pelo andar da carruagem, o PIB também será negativo no primeiro trimestre de 2009.

“A economia brasileira vai para a recessão com taxas de juros mais baixas. Não há política monetária que tire a economia brasileira da recessão porque o mundo inteiro está na recessão.”

Affonso Celso Pastore, O Estado de S. Paulo, 12.03.09

O próprio Pastore, economista e ex-presidente do Banco Central, que participou do GloboNews Especial, disse que dificilmente o crescimento do PIB brasileiro no acumulado do ano deixará de ser próximo de zero. Vamos torcer para que ele esteja errado.

Este post tem 0 comentários

  1. Adalberto Golfieri

    Amigos do Gestão Hoje
    Parabéns por mais esta abordagem muito bem focada sobre a recessão mundial.
    Como sempre, nota dez para vocês.
    Mas me preocupa uma coisa mais, que somente apareceu nos noticiários de ontem à noite:
    A famosa AIG insiste em repassar aos seus diretores o que eles intitulam “bônus contratuais” previstos nos contratos.
    Isso seria mesmo premiar os infratores. Se foram eles quem começaram isso tudo, agora o dinheiro do povo americano injetado para tentar equilibrar a crise e salvaguardar o contribuinte, vai para as mãos daqueles que, irresponsável e gananciosamente, criaram essa situação de caos planetário.
    A continuar assim, a crise não só se estenderá por muito mais tempo como poderá se perpetuar, travestida, para continuar premiando a comodidade dos imcompetentes.
    Deus me perdoe lembrar disso, mas não seria o caso do retorno da “moralizadora torneira” do Collor, desta vez aplicada no governo Obama?
    Enquanto os americanos insistirem em buscar culpados fora de seus umbigos, muito pouco ou quase nada (que são a mesma coisa) poderá ser feito para o equilíbrio mundial.
    Um abraço.
    Adalberto Golfieri

  2. ricardo

    A crise gera complicações. Na pressa de estabilizar ativos, investem em especulações que, as vezes, mais parece adulteração de produto. Levando a produção para mais distante e tornando a crise mais acirrada. Teimosia em tempo de crise, atitude que deve ser afastada, evitando penalizar o objetivo fim da empresa e condemando sua atividade meio. Situação que pode apontar a fatalidade do fim da crise, da empresa e do projeto do empreendimento.

  3. André Morais

    Excelente Adalbero. Parabéns pelas colocações. E, obviamente, parabéns aos amigos do Gestão Hoje pela matéria.
    Forte abraço a todos,
    André Morais

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