A cada dia que passa, ampliam-se os sinais de que a economia brasileira começa a se recuperar do tombo brutal que sofreu nos últimos dois trimestres, desde a quebra monumental do banco norte-americano de investimentos Lehman Brothers em 15 de setembro no ano passado. Para um PIB que vinha crescendo a taxas anualizadas de quase seis por cento no momento imediatamente anterior à eclosão da crise, ter tido um crescimento negativo de mais de três por cento no último trimestre de 2008 significou, na prática, uma desaceleração de quase dez pontos percentuais. Segundo o entendimento manifesto pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles no 8º. Fórum Empresarial de Comandatuba, na Bahia, o momento é de esperança, mas com cautela.
“Nas últimas semanas, a economia está dando sinais evidentes de recuperação, ainda que tímidos e num ritmo bem abaixo do período anterior à crise. (…) Meirelles mostrou vários números indicando trajetórias de recuperação, mas recomendou cautela ao interpretar esses dados. (…) O problema é que, além de ser a maior crise mundial desde a de 1929, os dados da economia são divulgados com enorme defasagem. O PIB do primeiro trimestre, por exemplo, será muito ruim e só será divulgado em junho, quando tudo leva a crer que a economia esteja muito melhor. Apesar da recuperação, o país deverá estar tecnicamente em recessão (dois trimestres negativos do PIB).”
Guilherme Barros, Folha de S. Paulo, 20.04.09
Essa recuperação anunciada deve-se em primeiro lugar à recuperação que seria esperada depois da grande queda do quarto trimestre de 2008 e, em segundo, às medidas tomadas pelo governo federal depois da pancada inicial, em especial no que diz respeito aos estímulos à indústria automobilística (Ministério da Fazenda), além das medidas monetárias (Banco Central).
“Parte da melhora brasileira é estabilização natural após a queda livre do quarto trimestre de 2008, mas também resultado de políticas de apoio à indústria automobilística e a política monetária em geral.”
Banco Barclays, Portal Exame, 20.04.09
Junto com os sinais de que a economia pode estar começando a voltar, ainda que lentamente, à condição pré-crise, apesar de o ano de 2009 já estar praticamente “perdido” em termos de crescimento (fala-se em crescimento acumulado próximo de zero em dezembro), começam a aparecer os sinais (que se reforçam mutuamente) de que o crédito (violentamente reprimido pelo setor bancário mundial e brasileiro desde a eclosão da crise) está, também lentamente, sendo retomado.
“Ainda estamos no meio de um processo de crise sério. As previsões de crescimento são pessimistas e há muita incerteza no mundo todo. (…) [Mas] A oferta de crédito já está caminhando para a normalização.”
Henrique Meirelles, Dinheiro Vivo, 20.04.09
Essa é uma boa notícia, considerando que o crédito, tanto às pessoas físicas quanto, principalmente, às pessoas jurídicas, é fator essencial de desenvolvimento. O súbito estancamento e o rápido encarecimento de um crédito já caro, como verificado desde setembro, gera uma especial intranqüilidade para o dia a dia da gestão que exigiu e está exigindo muita ginástica das administrações financeiras pelo mundo a fora. Iniciar a recuperação do fluxo de crédito é uma notícia que merece comemoração.
Depurador. Economia e crise em um processo econômico são coisas diferenciadas. Olhando o mercado existe sinais latentes que parecem recuperação, mas é a graça do mercado. Por outra, o retorno ao processo que finda, que seria entendido por recuperação, é impossível, porquê à crise, e diferente de mercado. O fato de existir sinais positivos no mercado, paralelo à crise, torna-se passível de investigação e, após, investimento – um outros ciclo?