Não é possível administrar adequadamente o tempo quando se detesta o trabalho, logo é preciso aprender a gostar do que se faz, investindo na qualidade e na excelência das tarefas
O último dos “mandamentos” do decálogo da administração do tempo apresentado no número anterior (ver GH/770) trata do prazer com o trabalho, um requisito fundamental para administrar o nosso tempo cotidiano. Vale a pena reproduzir o enunciado do “mandamento”:
“A forma mais produtiva de você ganhar tempo fazendo um trabalho é ter prazer com o que está sendo feito. O tempo mais mal gasto do mundo é aquele empregado num trabalho chato.”
9º. Mandamento da Administração do Tempo
Embora esse seja o último dos 10 “mandamentos”, talvez, por ordem de importância, devesse ser o primeiro porque se estamos, por exemplo, detestando o trabalho que fazemos, não há técnica de administração de tempo, por mais “milagrosa” que se proponha a ser, que dê certo. Mas como ter prazer com o trabalho se é tão difícil encontrar aquilo que se gosta de fazer? E se não achamos, como ter prazer com o trabalho que não consideramos ideal?
“Teremos então que trabalhar em algo que odiamos, condenados a uma vida profissional chata e opressora? A saída é aprender a gostar do que você faz, em vez de gastar anos a fio mudando de profissão até achar o que você gosta. E isto é mais fácil do que você pensa. Basta fazer o seu trabalho com esmero, um trabalho super bem feito. Curta o prazer da excelência, o prazer estético da qualidade e da perfeição.”
Stephan Kanitz, consultor e articulista brasileiro
Ao escrever esse polêmico artigo publicado na revista Veja tempos atrás, Kanitz foi no âmado da questão. Basta ver a quantidade de citações na internet para que se tenha uma ideia da importância do tema. Afinal, trata-se de uma questão que todo mundo que trabalha já se colocou. A mensagem dele é clara: antes de perder boa parte da vida procurando aquilo de que se gosta, tenha prazer com o que faz, fazendo bem feito.
“Se você não gosta do seu trabalho, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor na sua área, destaque-se pela sua precisão. Você será aplaudido, valorizado, procurado e outras portas se abrirão. Você vai começar a gostar do que faz, vai começar até a ser criativo, inventando coisa nova, e isto é um raro prazer.”
Stephan Kanitz, consultor e articulista brasileiro
Claro está que isso não deve significar acomodação, entrega dos pontos, desistência do desejo. Procurar continuamente o que se gosta de fazer é não só uma obrigação como um direito tão inalienável quanto a busca da felicidade pessoal. Uns poucos encontram com certa facilidade, para outros, mais numerosos, é menos fácil e para os demais, talvez a grande maioria, parece não ser possível encontrar. Bertrand Russel, notável matemático e filósofo britânico, chegou a escrever um interessante livro chamado “A Conquista da Felicidade” no qual trata a questão do seguinte modo:
“O segredo da felicidade consiste nisto: fazer com que os nossos interesses sejam os mais amplos possíveis.”
Bertrand Russel, 1872-1970, filósofo britânico
A partir daí, se poderia dizer que talvez o segredo da felicidade possível seja esse: interesses amplos e obstinação por fazer bem feito o que precisa ser feito. Sem esquecer, claro, da procura pelo que se gosta de fazer mas evitando que essa busca seja de tal modo obcecada que termine minando a capacidade de usufruir da felicidade proporcionada por um trabalho bem feito, ainda que não o ideal.