Copenhague não foi fracasso e, sim, avanço num caminho muito difícil

Embora tenha parecido um grande fracasso, o resultado da COP 15 deve ser visto como mais um passo num caminho ainda mais atribulado com a emergência de uma nova ordem mundial
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A 15ª. Conferência das Partes das Nações Unidas sobre o Clima (COP 15), concluída sexta-feira passada em Copenhague, deixou a sensação de fracasso. Também, pudera, seus objetivos eram bastante ambiciosos desde a definição.

“A COP 15 reunirá líderes de todo o mundo com responsabilidade que envolve o futuro de todos: firmar um acordo convincente capaz de reduzir as emissões de gases causadores de efeito estufa, principais responsáveis pelas alterações do clima global, dentre as quais, o superaquecimento do planeta.”

Site ecodesenvolvimento.org
Embora os avanços tenham acontecido, o padrão observado nos últimos dezessete anos no que diz respeito aos acordos relativos ao clima tem sido o da dificuldade de se chegar a entendimentos compartilhados. Quando se chega, como foi o caso em Kioto, o que acontece é o não cumprimento. Afinal, são muitos os interesses conflitantes das “partes” da conferência (delegações dos 192 países-membros da ONU ― só a delegação do Brasil era composta por 700 pessoas). Sem falar nas centenas de ONGs envolvidas no processo e com forte poder de pressão. As estimativas davam conta de 45 mil pessoas dentro e 100 mil fora do centro de convenções de Copenhague.

“Não cumprimos o que foi acertado no Rio de Janeiro em 1992. Em Kioto, houve um compromisso legalmente assumido, no qual se prometeu cortar ainda mais, e ainda nada feito. Acreditar que Copenhague será diferente me parece uma fantasia política.”

Bjorn Lomborg, cientista dinamarquês, Veja, 23.12.09
Um fator adicional que pesou sobre a COP 15 veio à tona após a crise financeira de 2008: a consolidação do protagonismo dos chamados países emergentes, à frente deles a China, a Índia e o Brasil. A crise deixou clara a divisão entre países ricos, emergentes e pobres, além de ter evidenciado mais ainda o papel da China, hoje o maior emissor de poluentes do mundo, à frente dos EUA. Além das partes, há interesses dos blocos que precisam ser considerados e negociados, em especial o bloco chamado de G2 (EUA e China) que tem muito a negociar e acertar, não só em relação ao clima.
“Hoje, são três os cataclismos mundiais: (1) a eclosão do terrorismo; (2) a emergência do clima; (3) a crise financeira de 2008 (…) Vamos precisar ainda de muita paciência e muita diplomacia mas muitos progressos estão sendo feitos.”
Roberto Abdenur, ex-diplomata, GloboNews 20.12.09
A COP 15 não foi um fracasso. Foram feitos avanços. O que pesava sobre ela era uma expectativa excessiva, como se houvesse o risco de, sem acontecer um grande acordo, o mundo acabar antes de se aquecer.

“O mundo não se acabou desta vez. O que acabou foi a COP 15, uma das reuniões de um processo de negociação que já se desenrola há dezessete anos. Tudo o que não ficou decidido ali estará em discussão novamente em 2010, na COP 16, que acontecerá em dezembro, no México.”

Ronaldo França, jornalista, Veja, 23.12.09
Tudo indica que há uma nova ordem mundial em formação e que as evidências sobre o aquecimento global funcionam como uma espécie de catalisador das discussões e acordos. Só que o processo é necessariamente lento. Até o Brasil, tradicional refratário à definição de metas de corte de emissões, apresentou uma proposta avançada em Copenhague, o que representa, inegavelmente, um avanço. Os EUA também. Agora, é aguardar e observar a evolução das tratativas.

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