100 anos depois de sua morte, Joaquim Nabuco, deixa uma boa lição sobre as características daqueles que, liderando “revoluções”, não têm perfil adequado para governar depois delas
Além da impressionante atuação de Joaquim Nabuco a favor da abolição da escravatura (ver GH/778), a sua obra tem também grande importância para o conhecimento da história e para a própria interpretação do Brasil. Os três grandes livros que escreveu (“O Abolicionismo”, “Um Estadista do Império” e “Minha Formação”) são fundamentais para isso.
“… formam uma trilogia de clássicos. O primeiro aparece em qualquer lista de dez livros mais importantes na área que se convencionou chamar de interpretações do Brasil. O segundo entra fácil na lista das cinco melhores biografias. O terceiro faz o mesmo na das cinco melhores autobiografias.”
José Murilo de Carvalho, Folha de S. Paulo, 17.01.10
O segundo livro, escrito em homenagem ao pai, o conselheiro do Império Nabuco de Araújo, é uma obra que impressiona pelo fôlego de historiador mesmo Joaquim Nabuco não sendo um de formação.
“Um Estadista do Império’ teve como subtítulo ‘Nabuco de Araújo, Sua Vida, Suas Opiniões, Sua Época’. Trata-se, sem dúvida, de uma homenagem filial e, como tal, o papel do senador é ressaltado. Mas foi muito mais do que isso. A última palavra do subtítulo, sua época, é o ponto alto do livro. (…) ‘Um Estadista’ é até hoje uma leitura indispensável para entender o funcionamento do sistema político do Segundo Reinado.”
José Murilo de Carvalho, Folha de S. Paulo, 17.01.10
Pois foi nesse livro que, em meio à sua discrição minuciosa da vida, obra e do tempo do seu pai, Joaquim Nabuco exerce sua verve de frasista. Uma das frases pinçadas do livro é de grande importância para a compreensão do que ocorre após as revoluções mas também ajuda a compreender a realidade organizacional.
“A fatalidade das revoluções é que sem os exaltados não é possível fazê-las e com eles é impossível governar.”
Joaquim Nabuco, “Um Estadista do Império”
De fato, a conclusão de Nabuco sobre a dinâmica das revoluções, a partir da análise das muitas que ocorreram no Brasil no período abrangido pelo livro, serve também para a realidade organizacional. Vemos com muita freqüência pessoas que têm excelente perfil para realizar mudanças intensas (e há momentos em que isso é necessário), mas que não têm perfil para governar depois que é preciso “depor as armas”. Às vezes, a insistência termina por colocar a perder os ganhos obtidos com a mudança, especialmente porque depois da sua fase mais cruenta (a “revolução”), é preciso fazer alianças e ajustes para restaurar as condições de governabilidade duradoura, como bem destaca Nabuco na continuação da frase.
“Cada revolução subentende uma luta posterior e aliança de um dos aliados, quase sempre os exaltados, com os vencidos.”
Joaquim Nabuco, “Um Estadista do Império”
Tem gente que, pelo perfil irrequieto, consegue realizar proezas importantes quando necessário, mas leva esse nervosismo permanente para a gestão cotidiana que precisa ter sua dose de tranqüilidade e continuidade para consolidar o que foi feito. Uma grande sabedoria organizacional é conseguir fazer essa transição, preservando as personalidades adequadas para os momentos que as requerem. Revolucionários no governo são tão contraproducentes quanto moderados na hora do “tiroteio” inevitável. São muitos os relatos de fracasso por conta da troca de uns pelos outros. Joaquim Nabuco, 100 anos depois de sua morte nos deixa também essa lição.