À medida em que vai ficando cada vez mais evidente o novo protagonismo do Brasil no cenário internacional, também se evidencia a ausência de intérpretes dessa realidade diferente
Segundo estudo divulgado na semana passada pela empresa de consultoria e auditoria PricewaterhouseCoopers, uma das big four da consultoria internacional, na semana passada, o Brasil será, até 2030, a quinta economia do mundo, ultrapassando atuais gigantes como Alemanha, Reino Unido e França. A projeção indica também que até 2020 o PIB dos sete maiores países emergentes, chamado pelo estudo de E-7 (formado por China, Índia, Brasil, Rússia, México, Indonésia e Turquia), será maior do que o do atual G-7 (Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália).
“Em 2030, nossas projeções sugerem que o top 10 global do ranking de PIB terá a liderança da China, seguida dos Estados Unidos, Índia, Japão, Brasil, Rússia, Alemanha, México, França e Reino Unido.”
PricewaterhouseCoopers, Estado de S. Paulo, 21.01.10
Trata-se, esta constatação, de mais uma evidência da mudança de situação do Brasil no novo contexto econômico internacional caracterizado por reposicionamentos importantes que a crise financeira, global deflagrada no final de 2008, se encarregou de deixar mais evidente ainda.
“Entre os reposicionamentos, três chamam mais atenção: a China, que ultrapassa os EUA, a Índia, superando o Japão, e o Brasil deixando para trás todos os gigantes europeus. Outra constatação do estudo é que a economia indiana crescerá mais rápido que a chinesa na década de 20.”
Diário Catarinense, 22.01.10
Ocorre que esse novo tempo do Brasil está carecendo de intérpretes à altura do momento como já houve em outras épocas, a exemplo do período da Abolição da Escravatura, que o Gestão Hoje destacou nos dois últimos números (ver 778 e 779) com as referências a Joaquim Nabuco, um dos grandes intérpretes do país.
“O Brasil contemporâneo está carecendo de intérpretes. Por tal, entenda-se o cientista social, ou economista, ou sociólogo, capaz de obras seminais para descrever os traços essenciais do país em cada época. No início do século 19, José Bonifácio foi um grande intérprete. Depois, Joaquim Nabuco. No alvorecer da República, o grande Manoel Bonfim. Mais à direita, Oliveira Vianna. Finalmente o trio clássico, Gilberto Freyre, Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque de Hollanda. Tempos depois, Celso Furtado e Florestan Fernandes. Nos anos 70 a 90, alguns cientistas políticos lograram entender os novos ventos políticos, o advento da opinião pública ajudando a sepultar os resquícios do regime militar. Com olhos contemporâneos, também ajudaram a lançar luzes sobre outras épocas da vida nacional José Murilo de Carvalho, Boris Fausto, Bolívar Lamounier, Evaldo Cabral de Mello, Luiz Werneck Vianna, Wanderlei Guilherme dos Santos.”
Luis Nassif, Coluna Econômica, 18.01.10
O país está mudando muito e rapidamente, fortemente influenciado pelo novo ambiente econômico internacional mas, também, pela internet, pelas novas mídias, pela emergência da Classe C, pelo advento da sustentabilidade, entre outros aspectos de grande e novo relevo. Vamos continuar procurando os novos intérpretes. Eles já estão começando a dar as caras por aí.