O aquecimento da economia, a valorização do dólar e a baixa taxa de investimento pós-crise começam a provocar a sinalização pelo Banco Central do aumento dos juros para dois dígitos
Desde setembro de 2009 no patamar de 8,75% ao ano, a taxa básica de juros da economia (Selic) corre o risco de voltar a subir já a partir de abril e de atingir novamente os dois dígitos a partir do julho, chegando ao final do ano na marca dos 11,25% e permanecendo no patamar dos 11% durante todo o ano de 2011. Pelo menos essa é a previsão do mercado financeiro captada pelo Banco Central.
“O período de calmaria pode estar chegando ao fim, e a partir de março as decisões vão ficar cada vez mais difíceis. Mantemos o nosso cenário que a primeira alta de juros será em abril, portanto, já em março as sinalizações devem começar. Provavelmente junto com as sinalizações de alta, virá a tempestade de críticas.”
Arthur Carvalho, Corretora Ativa, Último Instante
De fato, os motivos antecipados pelo Banco Central nas últimas atas do Copom (Comitê de Política Monetária) para a provável retomada da curva ascendente da política de juros é o reaquecimento da economia acima da capacidade de manutenção da inflação dentro da meta estabelecida (4,5% ao ano). As previsões do mercado são de crescimento do PIB da ordem de 5,30% em 2010. Um exemplo da extrapolação da capacidade é o que aconteceu com o consumo de energia na semana passada.
“Nunca se consumiu tanta energia elétrica no Brasil como agora. Na semana passada, o recorde histórico de consumo foi quebrado quatro vezes. Na quinta-feira 4, às 14h49, a demanda nacional por energia chegou à marca de 70.654 megawatts.”
Fábio Portela, revista Veja, 10.02.10
Com o mercado aquecido e o dólar em alta por conta da queda na entrada de divisas no país decorrente da ameaça de calote dos países da Europa considerados periféricos, em especial a Grécia, a inflação passa a apresentar um viés de alta que o BC evitará prosperar.
“Abalroados pela crise financeira, os ‘periféricos’ da zona do euro – Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha – vivem a angústia do defaut. Elos frágeis da União Europeia, os chamados Pigs usufruíram as delícias da euforia financeira dos anos 90 do século passado e do início do milênio. Todos capricharam no consumismo e alguns se esmeraram na formação de bolhas imobiliárias, tudo financiado a crédito barato por bancos…”
Luiz Gonzaga Belluzzo, economista, FSP, 07.02.10
Mais grave ainda é o fator psicológico que, infelizmente, retroalimenta as restrições ao crescimento sem reflexos inflacionários.
“Aumentando a taxa de juros, nós vamos ter de novo no Brasil taxas de dois dígitos. Pode ser meio semântico mas é psicológico. A gente tinha vendido que o Brasil finalmente depois de 500 anos ia ter uma taxa de juros de um dígito. (…) Infelizmente, por conta desse excesso de pânico de 2008, os empresários pararam de investir…”
Stephen Kanitz, Globo News Painel, 07.02.10
E, parando de investir, a taxa nacional de investimento caiu para perto de 15% do PIB, absolutamente insuficiente, segundo os especialistas, para sustentar um crescimento projetado para 2010 acima de 5% do PIB. Esses mesmos especialistas falam de taxas de investimento da ordem de 22% do PIB para permitir taxas sustentáveis de crescimento no patamar 5% do PIB, sem pressão inflacionária. Se isso é verdade, enquanto o investimento continuar baixo, os juros continuarão altos.