O PIB foi negativo em 2009, pela primeira vez desde a queda de Collor

Esse resultado, embora grave, precisa ser relativizado devido à grande recessão mundial pós crise de 2008 mas
permanece a questão sobre a capacidade do país de sustentar o crescimento

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Na semana passada foi divulgado pelo IBGE o PIB de 2009. Houve um crescimento negativo de 0,20% configurando uma situação que não se via no país há mais de 17 anos.

“É a primeira variação negativa desde 1992, ano do processo de impeachment contra o então presidente Fernando Collor e da inflação na casa dos 20% mensal.”

Folha de S. Paulo, 12.03.10
Visto isoladamente, com certeza, é um resultado muito ruim que lembra tempos desvairados da história recente do Brasil, com crescimento baixo, inflação alta e desmantelo político. No entanto, ele precisa ser relativizado considerando-se a grave crise que se abateu sobre a economia internacional a partir do quarto trimestre de 2008, depois que o setor financeiro dos EUA foi seriamente abalado pela quebra do banco Lehmam Brothers.

“Em termos comparativos, no entanto, o Brasil não fez feio. Nas nações desenvolvidas, a crise financeira global bateu com muito mais força. A queda do PIB foi de 5% no Japão; de 4,1% na zona do euro (grupo de países da União Europeia que adotam essa moeda); e de 2,4% nos Estados Unidos.”

Benedito Sverberi, revista Veja 17.03.10
Na verdade, esse resultado relativamente bom num mundo em forte recessão deve-se há mais de 15 anos de políticas macroeconômicas corretas e ao paulatino fortalecimento do mercado interno que foi o principal responsável pela manutenção do consumo, mesmo nos momentos mais agudos da crise no mercado externo no fim de 2008 e no começo de 2009.

“Fernando Henrique teve que fazer reformas estruturais que deram a Lula condições para que tivesse boa média e avançasse em programas sociais. Não é historicamente justo creditar apenas a Lula o crescimento recente. Ele se beneficiou também da conjuntura externa, antes da crise. Mas seus méritos são inegáveis, porque ele manteve a estabilidade e criou uma nova classe média.”

Bernardo Wjuniski, economista, Tendências Consultoria
Em contraste com o crescimento anual negativo de 2009, praticamente a unanimidade dos analistas prevê um crescimento acima de 5% em 2010. A grande dúvida que, aliás, já vem de quase uma década, é se esse crescimento se sustenta ou se teremos reeditado, mais uma vez, o vôo da galinha (sobe e desce, sem se manter voando). Dizem também os analistas que a questão-chave sobre o crescimento futuro reside na taxa de investimento em relação ao PIB que, a despeito de já ser historicamente baixo, diminuiu mais ainda quando os agentes produtores resolveram colocar o pé no freio depois que viram os horizontes econômicos se fecharem quase que completamente no final de 2008.

“Esse tipo de investimento, embora tenha voltado a crescer em 2009, mal passa de 17% do PIB. Os economistas afirmam que o país precisa de algo em torno de 21% a 25% do PIB para crescer sem ameaça de inflação. Ao mesmo tempo, as famílias brasileiras conseguem consumir mais, mas não aprenderam a economizar e investir para o futuro. A taxa de poupança, que já era baixa, manteve-se estagnada entre 2007 e o início de 2009, e caiu de lá para cá. São preocupações que precisam aparecer logo no debate eleitoral – ou o crescimento, no futuro, poderá ser atrapalhado por qualquer marolinha.”

Marcos Coronato, revista Epoca 15.03.10

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