No livro já comentado sobre o próximo século, George Friedman trata muito pouco da América Latina e do Brasil mas vale a pena refletir sobre o que ele diz acerca do nosso país
A propósito do encontro do grupo de países emergentes denominado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), em Brasília na semana passada, vale a pena observar o que o escritor George Friedman diz acerca desses países, em especial sobre o Brasil, no excelente livro “Os Próximos 100 Anos”, comentado nos dois últimos números do Gestão Hoje (ver 789 e 790). Sobre a China e a Rússia, Friedman fala muito e em resumo diz que a China se fragmentará por volta de 2020. Já sobre a Rússia, diz que ela se recuperará, enfrentará mais uma vez os EUA, será derrotada e se fragmentará de novo, pouco depois de 2020. Curiosamente, pouco fala sobre a Índia e sobre o Brasil. A primeira referência ao Brasil é a seguinte:
“Países médios como Brasil e Coreia, verão suas populações estabilizarem-se na metade do século e diminuírem lentamente em torno de 2100.”
George Friedman
Já a segunda referência, contextualiza o Brasil, junto com a Argentina, na América Latina, comparando-a com a Europa. Ou melhor, comparando a Europa com a América Latina para evidenciar que a união européia, segundo a visão que é adotada no livro, não chegará a um nível tal de integração que ameace a hegemonia mundial norte-americana.
“A Europa comporta-se muito mais como a América Latina do que como uma grande potência. Na América Latina, o Brasil e a Argentina passam boa parte do tempo pensando um no outro, sabendo que seus efeitos no planeta são limitados.”
George Friedman
No que diz respeito à referência mais extensa feita no livro, o autor se refere ao Brasil como uma potência regional da América do Sul que progressivamente desenvolverá interesses não propriamente pacifistas. Poderá ser um aliado do México, seu rival em termos de liderança na América Latina quando ele, no final do século, desafiar a liderança dos EUA na América do Norte.
“O Brasil vai ser uma potência emergente especialmente importante, uma geração atrás do México na estabilidade demográfica, mas se movendo rapidamente nessa direção. O Brasil considerará uma aliança econômica regional com a Argentina, o Chile e o Uruguai, que irão caminhando a passos largos. Ele irá pensar nos termos de uma confederação pacífica, mas, como tantas vezes acontece, no devido tempo terá idéias mais agressivas. O Brasil com certeza vai ter um programa espacial na década de 2060, mas ele não será completo e não será ligado a uma necessidade geopolítica imediata.”
George Friedman
Já a última referência, reafirma a trajetória do Brasil como potência regional e explicita o papel que pode ter de solidariedade ao México.
“O Brasil, que terá se tornado uma importante potência por seus próprios méritos, fará alguns gestos de solidariedade ao México.”
George Friedman
As poucas referências ao Brasil parecem evidenciar que, segundo a visão do autor, o papel do Brasil no próximo século será importante mas pouco relevante para a dinâmica geopolítica mundial. Não se pode negar que fica um gostinho de “quero mais”. Por conta disso, aproveitando o momento sucessório nacional, talvez valesse uma recomendação ao próximo presidente eleito: contratar Friedman (que tem uma empresa de consultoria) para fazer uma projeção sobre as próximas décadas para o Brasil. Seria uma excelente oportunidade de jogar luz sobre o futuro do país no longo prazo.