Desconfie muito da internet, na maioria das vezes ela está equivocada

A internet, ao contrário das mídias tradicionais (jornal, rádio, televisão etc.), não tem edição e se oferece como depositária universal da verdade inquestionável quando as dúvidas são imensas
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Há vinte anos, quem dissesse que ia existir algo como a internet e o telefone celular, provavelmente seria taxado de louco ou de ter lido ficção científica demais. Se dissesse também que os dois iriam se fundir como está acontecendo agora com os smartphones, então, provavelmente, seria internado.

“A expectativa é que, em mais 6 anos, esses aparelhos sejam responsáveis por 2/3 de toda a venda de celulares em território americano, massificando definitivamente os novos hábitos do consumidor contemporâneo e expandindo significativamente as possibilidades do comércio eletrônico.”

cooperblog.com.br
Os avanços e as possibilidades da internet são imensos. Quando acoplados aos telefones celulares conectados, então, eles passam a ser infinitos. Veja-se, por exemplo, o caso dos tradutores digitais que foram objeto de um extensa reportagem de capa da revista Veja desta semana. A matéria dá destaque ao mais avançado desses tradutores que é o Google Translate capaz de prodígios inimagináveis como traduzir qualquer texto de uma língua para outra em menos de um segundo.

“Hoje, ele permite a tradução instantânea de textos escritos em 52 idiomas. Para o leitor, é como colocar-se diante de uma biblioteca infinita e descobrir que as publicações estão em português. Estima-se que em dez anos já sejam 250 as línguas contempladas. E, nesse ponto, a inclusão de aplicativos de tradução simultânea em computadores e telefones celulares permitirá que bilhões de pessoas se entendam – sem jamais ter de abandonar a própria língua.”

Jadyr Pavão Júnior, revista Veja, 05.05.10
Mas como toda moeda tem o outro lado, a internet tem a sua contrapartida perniciosa. O Google que é o grande buscador universal, prodígio de ferramenta tecnológica, agrupa por freqüência de consulta e, como tal, dá foros de verdade ao que é, apena popular, seja verdade ou não.

“O Google, esse pequeno feitiço tecnológico, é uma dádiva, não resta dúvida. Mas é bom, muito bom, para quem tem informações e filtro – e pode peneirar os difusos e infinitos dados ali postados – e ruim, ou mesmo pernicioso, para quem não os tem. E nesse particular, jovens em formação (não só cultural) são as maiores ‘vítimas’ da facilidade e instataneidade do Google.”

Zeca Baleiro, revista IstoÉ, 28.04.10
A grande questão que a internet coloca é se o que foi encontrado, ainda que infinitamente repetido, é verdade. Na maioria das vezes não é ou, pelo menos, é muitíssimo incompleto, uma verdade tremendamente parcial. Nesta condição carece, intensamente, de filtragem, de escolha, de crítica como bem define o compositor Zeca Baleiro em artigo recente muito interessante.

“Como se cria filtro? Com educação e cultura. Não há mágica. Para criar senso crítico, há que se conhecer. Pouco vale ter acesso à informação se não há estofo para julgá-la.”

Zeca Baleiro, revista IstoÉ, 28.04.10
O grave é que este estofo indispensável é mercadoria cada vez mais rara. Em primeiro lugar, pelo nível tremendamente deficiente do nosso sistema de ensino, mesmo o mais elitizado. Em segundo pela leva de jovens que, criados dentro da internet, não conseguem discernir o que é ou não verdade. E um fenômeno termina por reforçar o outro… Em razão disso, o risco que corremos todos é legitimar e reforçar um território virtual do “faz de conta” que se superpõe à realidade e passa a fazer as vezes dela. É preciso considerar seriamente que a internet, ao contrário das mídias tradicionais (jornal, rádio, televisão etc.) não tem edição. E aí?

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