Tanto o susto da semana passada quanto o pacote de salvação do fim de semana são evidências de que a crise ainda não terminou e de que é preciso não descuidar
Na quinta-feira, 06.05.10, grande turbulência nas bolsas de valores ao redor do mundo, na pior reação depois dos dias de pânico que se seguiram à quebra do Lehman Brothers em 2008. O índice Dow Jones da Bolsa de Nova York despencou 9% em 15 minutos e a Bolsa de São Paulo acelerou suas perdas.
“Os estrangeiros tiraram quase R$ 900 milhões da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nos três primeiros dias úteis de maio. A média diária de saída (próxima a R$ 300 milhões) supera até mesmo a do pior momento da crise global. Em outubro de 2008, deixaram a Bolsa R$ 4,7 bilhões, valor recorde dos últimos anos. Na média diária, eram R$ 213 milhões.”
Leandro Modé, O Estado de S.Paulo, 09.05.10
Tudo por causa do agravamento da situação da Grécia e da forma arrastada como o problema vinha sendo tradado pela Comunidade Europeia no enfrentamento da sua primeira grande crise desde a criação da moeda comum, o euro, em 1999. Tão arrastada que terminou por transformar o problema de um pequeno país como a Grécia num drama que ameaçou ressuscitar a crise de 2008.
“Grécia: onze milhões de habitantes, população equivalente à da região metropolitana do Rio, território menor do que o Rio Grande do Sul e um PIB que é a metade do estado de São Paulo. O país não tem peso para provocar uma crise global. Mesmo assim, está provocando. É o preço a pagar pelo sucesso do mundo — e da Europa, em particular — em aumentar as conexões na era da globalização.”
Miriam Leitão, O Globo, 09.05.10
Com o agravamento da situação nos mercados financeiros e a ameaça de contágio bancário, a Comunidade Europeia reuniu-se no fim de semana passado e embrulhou um pacote de socorro aos países com problemas da ordem de US$ 1 trilhão. Como consequência, os mercados começaram a semana em alta. Todavia, a dúvida sobre a consistência da retomada pós-crise reinstalou-se.
“Faz quase dois anos que especialistas começaram a discutir se a economia global, a partir da crise, iria desenhar um gráfico parecido com um ‘L’ (após afundar, ela seguiria no buraco por um bom tempo), um ‘V’ (caiu, mas logo voltaria a crescer) ou um ‘W’ (logo voltaria a crescer, mas afundaria de novo antes de se firmar no caminha para cima). O dramático mergulho das ações na Bolsa de Nova York, na quinta-feira, fez surgir uma nova tese para os rumos da economia: o WWW.”
Marcos Coronato e Thiago Cid, Época,10.05.10
Seja como for, o fato é que mesmo com a nova euforia dos mercados, uma coisa ficou evidente após a eclosão da crise da Grécia: os governos salvaram os mercados, em especial os bancos, mas permanece a dúvida sobre quem salva os países salvadores. Nos EUA, o Fed (Banco Central) e o Tesouro dividem a tarefa de socorro com mais eficiência porque atuam em um só país. Na Europa, a coisa é muito mais complicada porque são inúmeras realidades nacionais bem diferentes e uma moeda única. Harmonizar interesses tão divergentes é uma tarefa trabalhosa e demorada. Tempo que a crise não dá. Um alerta, inclusive para o Brasil que se saiu bem da crise de 2008 mas que, por conta da emergência anterior e da eleição, está descuidando das boa práticas fiscais e orçamentárias.
“A crise europeia também deixa uma lição para o Brasil: não se pode seguir em frente deteriorando as contas públicas e acumulando déficits em conta corrente.”
Valéria Maniero, Blog da Miriam Leitão , 10.05.10