Por conta do grande peso do presidente Lula na vitória, desafios importantes se colocam logo de início para a candidata eleita, além do maior deles que é fazer o país avançar mais ainda
A primeira constatação que se pode fazer da eleição de Dilma Rousseff como a primeira mulher presidente da história do Brasil é a de que, antes da dela, o que houve foi uma grande vitória do presidente Lula, turbinada por uma popularidade recorde na Presidência da República (83% na reta final da campanha).
“Lula venceu. Como se não bastasse, transformou-se no primeiro presidente da história brasileira a conseguir fazer seu sucessor em uma eleição realmente livre.”
Vladimir Safatle, professor da USP, FSP, 01.11.10
Por conta disso, o primeiro grande desafio da candidata eleita será conseguir superar a enorme influência que o presidente Lula tenderá a ter sobre ela e seu governo. Não por acaso, Lula vem vazando para a imprensa que quer a permanência de Henrique Meirelles, Guido Mantega, Nelson Jobim e Fernado Hadad, além de “recomendar” Antonio Palocci para a Casa Civil… Há até quem fale em “terceiro mandato”.
“Ele fez a candidata, impôs o seu nome ao PT, garantiu-lhe a vitória, vem escolhendo ministros desde a campanha, determina como será o governo e será o dono do país, de fato também no mandato da sucessora.”
Eliane Cantanhêde, jornalista, FSP, 02.11.10
Além desse desafio que não é pequeno nem rápido de superar, Dilma enfretará uma conjuntura externa e interna pior do que a média enfrentada por Lula ao longo do seu mandato.
“O mundo e o Brasil estão entrando em um período de stress econômico, político e social, que substitui, ciclicamente, o período de expansão e mobilidade que marcou a última década e beneficiou muito o governo Lula. Dificilmente será assim, no governo Dilma. O principal desafio da nova presidente será definir sua equipe econômica e seus planos para enfrentar esse ciclo mais duro, que pode tomar todo o seu mandato.”
Sérgio Abranches, sociólogo, www.ecopolitica.org
Mesmo com o cacife da enorme popularidade do presidente em fim de mandato, a vitória de Dilma pode ser atribuída, de fato, ao que os norte-americanos chamam de “feel good factor”, o sentimento de bem-estar aliado ao cálculo pragmático da maioria do eleitorado de que para manter o bom estado das coisas seria menos arriscado votar numa candidata praticamente desconhecida do que num mais conhecido e experiente. Isso traz para Dilma uma responsabilidade essencial no que diz respeito à governabilidade no seu mandato.
“Para ter governabilidade, Dilma precisará ser capaz de manter os bolsos dos eleitores como estão: cheios.”
José Roberto Toledo, Blog do Noblat
Por essas e por outras razões, dentre as quais o obvio fato de ela não ser Lula, além do clima acirrado da campanha, o tempo de boa vontade para com Dilma é bem mais curto do que o inicial dele.
“Dilma não contará com o período de graça que Lula teve entre 2003 e o mensalão; vai ter oposição antes da posse.”
Renato Lessa, cientista político, FSP, 01.11.10
A favor da candidata eleita se pode dizer que tem começado bem (discurso da vitória, entrevistas iniciais, escolha da equipe de transição), o que não deixa de ser promissor para quem se vê diante de desafios tão importantes, dentre os quais este sintetizado pelo ex-ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, um sujeito de sotaque e ideias estranhamente enrolados, mas que tem pensamentos originais e interessantes:
“O atributo mais importante do Brasil é sua vitalidade; desmesurada, anárquica, quase cega. Dar braços, asas e olhos a essa vitalidade é a tarefa do governo Dilma.”
Roberto Mangabeira Unger, professor de Harvard