Encontro reunindo os prefeitos das maiores cidades do mundo colocou em pauta a responsabilidade das grandes metrópoles na melhoria da qualidade de vida.
Prefeitos das quarenta maiores cidades do mundo estiveram reunidos, na última semana, em São Paulo, no encontro bianual do C40, entidade que discute alternativas, compartilha experiências bem-sucedidas e soluções para tornar as cidades mais sustentáveis. O encontro colocou em pauta um debate urgente e essencial na agenda global, embora não tenha despertado grande atenção da mídia: qual o papel das metrópoles na condução de questões vitais, como o equilíbrio ambiental e as mudanças climáticas?
Para a consultora Fátima Brayner, sócia da TGI e do INTG e Doutora em Engenharia Ambiental, o encontro do C40 tem grande importância pela responsabilidade crescente das cidades em relação a esses temas. “Desde 2008, quando a população urbana superou a rural pela primeira vez na História, as cidades passaram a desempenhar um papel determinante”, assinala Fátima. “A estimativa é de que, em 2015, o mundo tenha 22 megacidades, com população acima de 10 milhões de habitantes. A discussão sobre o papel dessas metrópoles na melhoria das condições e da qualidade de vida nunca foi tão urgente”, ressalta.
O C40 parte do princípio de que as cidades têm mais flexibilidade para adotar medidas sustentáveis, enquanto os países terminam perdidos em discussões mais amplas, porém com poucos efeitos práticos. A entidade acredita que cabe às metrópoles o papel de protagonismo na implantação de soluções, pela capacidade de adotar atitudes sustentáveis com impacto em questões essenciais, como a redução do efeito estufa e do consumo de energia e as mudanças climáticas.
Estiveram presentes no encontro do C40, o anfitrião, prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab; o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg; o ex-presidente dos EUA Bill Clinton; e o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick; entre outros. Durante o evento, as cidades compartilharam cases de boas práticas voltadas para a questão da sustentabilidade, como uso intensivo de bicicletas, substituição dos automóveis tradicionais por carros elétricos, disseminação das “construções verdes” e uso de biogás para produção de energia.
Mas o C40 foi além da disseminação de boas iniciativas. Ao final do evento, foi publicada a Declaração de São Paulo, formalizando a reivindicação dos prefeitos das principais cidades por mais espaço na definição de políticas públicas sobre mudanças climáticas e acesso a financiamento de projetos na área ambiental. “As boas práticas e as experiências exitosas são importantes, mas são soluções pontuais”, diz a consultora. “Para dar conta desse imenso desafio, essas ações precisam estar articuladas e vinculadas a políticas públicas de Estado mais amplas e consistentes, para que tenham de fato um efeito concreto em questões como as mudanças climáticas”, acredita.
A ideia é que os principais pontos do encontro sejam aprofundados durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, que acontecerá em 2012, no Rio de Janeiro, uma das cidades que integram o C40. A Rio+20 deve ampliar as principais questões debatidas pelo C40, ajudando a consolidar uma agenda “sustentável” com metas definidas para apoiar o planejamento das cidades na questão das mudanças climáticas e do crescimento urbano sustentável. “No mundo predominantemente urbano onde vivemos, é preciso garantir que as cidades se tornem cada vez mais sustentáveis”, ressalta Fátima. “Isso passa por uma discussão mais ampla sobre questões como mobilidade urbana, poluição, infraestrutura, acesso da população a serviços básicos, como água e saneamento, entre outros”, analisa.
Muito interessante.