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O vexame dado pelo comandante Francesco Schettino no acidente com o navio Costa Concordia na Toscana é um bom caso para tratar a questão da responsabilidade da liderança nas organizações. O senso comum prega que “o comandante é o último a abandonar o navio” e todos nós terminamos aprendendo isso e internalizando como verdade a ser seguida.
O comandante Schettino desmoralizou essa tradição não só porque foi imprudente, conduzindo de forma temerária o navio perto da costa, sem prestar atenção nos mapas e nos radares indicando as pedras próximas, mas principalmente por ter abandonado o navio antes de uma boa parte dos passageiros, a ponto de levar um grande carão por telefone do capitão dos portos que foi transmitido para o mundo inteiro.
O ocorrido lembra a história que se diz ter acontecido com o ex-presidente brasileiro general Artur da Costa e Silva. Estava ele voando em comitiva num avião militar de Brasília para o Rio de Janeiro quando, no meio do caminho, o avião apresentou um defeito que parecia grave. Quando chegou no Rio, assim que posou, o chefe da segurança grita: “corram que o avião pode explodir!”. Todos debandaram o mais rápido que puderam. Menos o presidente que levantou-se calmamente, desceu as escadas e caminhou sem pressa até o saguão onde estavam todos os passageiros e tripulantes. Chamou chefe da segurança e lhe disse de modo a que todos ouvissem: “O senhor cometeu dois erros graves. Primeiro, gritou no ambiente onde estava o presidente da República. Não se grita no ambiente onde está o presidente da República. Segundo, desconsiderou que presidente explode, mas não corre”.
É isso aí, comandante, assim como presidente, explode mas não corre porque, quando o faz, se desmoraliza.