O artigo da economista Tânia Bacelar, publicado na Coluna da Rede Gestão do último domingo, traz uma reflexão relevante e uma provocação oportuna sobre as perspectivas de desenvolvimento da Região Nordeste em médio e longo prazos. A possibilidade de um novo ciclo de concentração da base produtiva no Sudeste pode ser uma ameaça à continuidade do crescimento da Região nas taxas registradas nos últimos anos? Depois da Copa, o Nordeste estaria fora do jogo?
De fato, as questões levantadas por Tânia — concentração das cadeias produtivas do pré-sal, da indústria automotiva, da petroquímica e do etanol no Sudeste — são preocupantes e merecem ser discutidas com profundidade, pelo impacto que podem vir a ter na economia dos estados nordestinos individualmente e da Região como um todo. Uma primeira análise, entretanto, sinaliza que Pernambuco está em uma situação bastante privilegiada e tem as condições necessárias para manter esse ritmo de desenvolvimento, posicionando-se de forma competitiva no cenário nacional.
Estudo da Macrovisão e Ceplan para a Pesquisa Empresas & Empresários traçou os cenários mais prováveis para Pernambuco até 2035. No mais otimista, o PIB do Estado cresceria cinco vezes em relação a 2010, impulsionado pelos investimentos estruturadores, chegando a R$ 439 bilhões, o equivalente ao PIB atual do Nordeste. Na segunda hipótese, mais moderada, a economia triplicaria de tamanho, com o PIB chegando a R$ 255 bilhões.
O jogo, porém, não está ganho. Apesar do clima de otimismo com o desempenho da economia pernambucana nos últimos anos, será necessário um grande esforço, tanto do Poder Público como da iniciativa privada, para superar os gargalos, vencer os desafios e aproveitar da melhor maneira possível as oportunidades que surgem neste momento de dinamismo econômico pelo qual passa o Estado. O que vai fazer a diferença entre o primeiro e o segundo cenário, definindo como Pernambuco estará posicionado no futuro, é exatamente a capacidade de o Estado e suas empresas solucionarem os principais entraves do presente
Não é uma tarefa simples. Entre os maiores gargalos, estão a concentração de investimentos na Região Metropolitana do Recife, a ênfase na economia do petróleo, a sobrecarga na infraestrutura urbana, a falta de mão de obra especializada e a baixa qualidade do ensino básico e profissionalizante — desafios que requerem uma abordagem complexa, exigindo grande mobilização e investimento para serem enfrentados.
Os empresários pernambucanos também têm um difícil dever de casa a cumprir. A verdade é que nem todos serão capazes de sobreviver ao quadro de hipercompetição que se desenha para a economia de Pernambuco nos próximos anos, com a chegada de concorrentes de outros estados e do exterior, altamente qualificados e competitivos. Será preciso uma mudança de postura para desenvolver um maior protagonismo empresarial, além de investimento no aperfeiçoamento do padrão de gestão das empresas, buscando a total profissionalização, disciplina de capital, inovação tecnológica e em produtos, e a adequada transição para a economia de baixo carbono.
O cenário para a Região Nordeste pode apresentar ameaças, como alertou Tânia Bacelar. Porém, se desenvolver competência pública e privada, Pernambuco tem as condições necessárias para vencê-las e continuar no jogo, garantindo seu lugar no futuro.