Tire férias!


por Georgina Santos, sócia da TGI Consultoria em Gestão
Todo mundo conhece alguém que parece ter medo de sair de férias. São aqueles profissionais que trabalham de janeiro a janeiro, nunca tiram o mês inteiro a que têm direito e, quando estão longe, ligam constantemente para o trabalho, preocupados em saber como as coisas estão andando em sua ausência. Na sua fantasia, são insubstituíveis e não podem se dar ao luxo de tirar férias porque a equipe, o setor ou até mesmo a empresa não conseguiria funcionar sem a sua presença.
A resistência a tirar férias, na maioria das vezes, não é resultado apenas de uma dedicação profissional extrema. É um comportamento que pode esconder problemas mais graves, como um profissional inseguro ou um gerente excessivamente centralizador, com grande dificuldade em delegar. É preciso muito cuidado com essa armadilha, pois a fantasia de ser essencial ou insubstituível pode ser, em alguns casos, alimentada pela própria empresa, que resiste a conceder ao profissional um período maior de recesso. É cada vez mais comum, por exemplo, ver pessoas partindo as férias em pequenos intervalos de tempo — uma semana, dez dias ou até mesmo aproveitando o recesso de final de ano ou de Carnaval, quando as demandas profissionais diminuem. Será que assim os profissionais estão mesmo saindo de férias? Ou será uma forma de driblar o “sair de férias”?
As férias são importantes para que o profissional se desligue do dia a dia, adquira novas informações, recicle e atualize conhecimentos, viaje e conheça novas culturas, tenha novas experiências. Em síntese, possa abrir sua cabeça para o novo e voltar ao trabalho reciclado, trazendo novos conteúdos e visões para compartilhar com a equipe e a empresa. E, se o tempo for muito curto, isso não acontece.
É preciso, porém, planejar essa ausência. Sair de férias sem preparar alguém para assumir suas tarefas, sem delegar os projetos em andamento nem compartilhar as informações com a equipe certamente vai gerar problemas, reforçando o sentimento equivocado de que aquele profissional é, de fato, insubstituível. Com planejamento, é perfeitamente possível se afastar por períodos maiores, investindo, por exemplo, numa viagem ou em um curso no exterior, sem que isso atrapalhe o andamento do trabalho. Ao criar uma meta, definindo e planejando as férias com antecedência, também fica mais fácil ir negociando com a empresa e vencendo eventuais resistências.
No caso de gestores e gerentes que evitam tirar férias, um cuidado em especial. É importante fazer uma autoanálise e verificar se esse comportamento não esconde um excesso de controle e centralização. O gerente ou administrador que possui uma equipe competente sabe que pode tirar férias tranquilo. Afinal, sua principal responsabilidade não é fazer as coisas, mas, sim, garantir que elas sejam feitas. O bom gerente, em outras palavras, não é aquele que concentra o maior número de atividades, mas aquele que consegue fazer com que a sua equipe as faça bem.
Desenvolver equipes autônomas, eficazes e competentes é uma exigência não só para que o gerente possa tirar suas férias — merecidas e necessárias — com tranquilidade. Mas também para assegurar a capacidade competitiva da empresa em um ambiente cada vez mais exigente, no qual gerentes menos sobrecarregados de responsabilidades delegáveis têm mais capacidade de obter melhores resultados.

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