Desde junho, quando começaram a pipocar os protestos em todo o País, a sociedade tem se esforçado para traduzir e tentar compreender a mensagem que vem das ruas. Em meio a análises diversas, parece haver um consenso em torno da ideia de que as pessoas estão cada vez mais conscientes de seus direitos e dispostas a exercer seu papel de cidadãs. Insatisfeitas com a forma “como as coisas funcionam”, querem mais transparência, mais eficiência, menos discurso e mais resultados.
Engana-se quem pensa que o recado das ruas é direcionado apenas aos políticos e ao Poder Público. O que está em curso é um movimento muito mais amplo, no qual as pessoas, organizadas em rede, querem exercer um papel de protagonismo na busca por melhorias e mudanças. É importante que os gestores estejam atentos a esse cenário e preparados para lidar com demandas semelhantes também no ambiente da empresa.
1. Primeira lição das ruas: não é possível ignorar a insatisfação, nem deixar reivindicações sem respostas. Se há pontos de descontentamento ou conflitos na equipe, o melhor é tratá-los com objetividade, discutir, encaminhar as soluções possíveis e, principalmente, dar uma resposta consistente ao grupo.
2. Outro ponto importante é a posição do gestor quando a equipe demanda mais protagonismo — quer ser ouvida, ter mais autonomia, participar das decisões. Tema já tratado diversas vezes pela Coluna Gestão Mais, a gestão participativa é um caminho sem volta. Há cada vez menos espaço nas empresas para o estilo de gestão centralizado, baseado no princípio do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. A lógica é que um modelo no qual cada um possa contribuir ativamente para a construção do projeto coletivo é mais produtivo e enriquecedor do que a gestão centrada na fórmula “comando x obediência”.
3. Uma reflexão final. Ao lidar com os protestos nas ruas, gestores públicos vêm alternando reações igualmente equivocadas: a omissão ou a resposta violenta aos atos de violência. A violência é inadmissível e requer interdição firme; afinal, quando o diálogo se faz impossível, reprimir as intenções destrutivas faz parte da responsabilidade daqueles cuja missão é sustentar os pactos sociais: pais, professos, gestores, governantes, líderes empresariais, líderes políticos. Mas reagir de modo também violento torna todos supostamente iguais e dilui o diferencial de liderança. Os gestores privados podem aprender com esse tipo de erro para não repeti-lo: reconhecer o que é legítimo nas demandas das equipes e dar-lhes respostas consistentes, sim; diálogo, sim; transparência nos posicionamentos, sim; tolerância com o que é inadmissível, não; respostas truculentas, também não. É mandatório para o líder sustentar o rumo desejável para o grupo, para a gestão e para a empresa.
O Gestão Mais é uma coluna da TGI na revista Algomais. Leia a publicação completa aqui: www.revistaalgomais.com.br.