EM LOUVOR DOS VENTOS ALÍSIOS DO RECIFE

por Francisco Cunha, sócio da TGI Consultoria em Gestão
Não sei como se calcula isso mas que parecia ser verdade, parecia.
No final de janeiro estive em Porto Alegre para participar, representando o Observatório do Recife, do encontro do Programa Cidades Sustentáveis apoiado pelo Instituto Ethos, pela Rede Nossa São Paulo e pela Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, no âmbito do Fórum Social Mundial Temático.
Logo ao sair do aeroporto da capital gaúcha, senti o drama do que me esperava pelo bafo quente com que fui recepcionado do lado de fora. Olhei para o termômetro do celular e estava lá a marca reveladora: 36 graus. Quando cheguei no hotel, me informaram que a sensação térmica era de 46 graus. Não sei como se calcula isso mas que parecia ser verdade, parecia. Um dos participantes do encontro que também tinha chegado de avião um pouco antes disse que ao pedir uma bebida quente na aeronave recebeu a seguinte recomendação da tripulante: “peça algo gelado porque o seu destino é ‘Forno’ Alegre”. Uma grande injustiça com uma cidade tão simpática…
Impactado por esta marcante experiência sensorial, reagi quando outro participante sulista me disse algo do tipo: “Você já deve estar acostumado com isso por causa do calor que faz na sua terra…”. Respondi de bate-pronto: “Eu, não, que na minha terra não faz calor assim”. Aí pensei no Recife onde nunca, em toda a minha vida, tinha tido uma sensação térmica sequer parecida com aquela. E me indaguei o porquê disso. Lembrei, então, do tempo de faculdade (de Arquitetura e de Geografia) e dos ensinamentos do mestre Gilberto Osório de Andrade sobre massas de ar, logo me vindo à mente a resposta: por causa dos ventos Alísios de Nordeste e de Sudeste que sopram praticamente o ano todo (mais os de Sudeste do que os de Nordeste) e não deixam que persista a sensação de fornalha soprada por uma aragem quente como estava acontecendo em Porto Alegre. Os ventos Alísios nunca são quentes pois trazem a humidade suave do mar para as regiões subequatoriais costeiras no Brasil, como é o caso do Recife.
Daí, invadiu-me a impressão de que nunca louvamos suficientemente a dádiva dos Ventos Alísios no Recife. Graças a eles eu mesmo, desde que uso iPhone, nunca vi marcar no termômetro mais do que 31 graus centígrados e, mesmo assim, em raras ocasiões porque a temperatura média anual é de 25,4 graus, o que enseja dias bem suportáveis e noites não chuvosas agradabilíssimas.
Voltei de Porto Alegre com a sensação de que não damos devido valor ao ativo meteorológico que temos e de que não agradecemos o suficiente pelo fato de não termos nenhum “forno” parecido no Recife.
*Artigo publicado na edição 95 da revista Algomais (www.revistaalgomais.com.br).

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