por Francisco Cunha, sócio da TGI Consultoria em Gestão
Todo mundo tomava banho no rio, as casas eram viradas para ele e se veraneava no Poço da Panela, em Apipucos, em Caxangá...
Os recifenses estão de parabéns. Finalmente, depois de secular abandono, o Rio Capibaribe começa a retomar a importância que teve desde o início da formação da planície do Recife, há milhares de anos, passando pela ocupação econômica da sua várzea que terminou contribuindo para transformar o açúcar numa commodity mundial.
Desde a colonização, até cerca de meados do Século XIX, o Capibaribe foi a principal via de transporte de gente e mercadorias da planície do Recife, do porto até o bairro da Várzea, além de abrigar os balneários da cidade. Todo mundo tomava banho no rio, as casas eram viradas para ele e se veraneava no Poço da Panela, em Apipucos, em Caxangá… Depois, com o crescimento explosivo da cidade e a motorização dos deslocamentos, o rio foi se enchendo de esgoto e lixo e passou a ficar escondido no fundo das casas…
Agora, como bem documenta a reportagem de capa deste número da Algomais, temos um caminho organizado e uma forte esperança de resgate da essencialidade perdida: o projeto Parque Capibaribe encomendado pela Prefeitura do Recife, por intermédio da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade, à Universidade Federal de Pernambuco. Com a participação de 12 grupos de pesquisa e 42 pesquisadores de diversos departamentos, os resultados preliminares, de grande qualidade urbanística e ambiental, foram publicamente apresentados no final de abril e já estão disponíveis no site e na fanpage (facebook.com/parquecapibaribe) do projeto.
E o melhor de tudo é que esse projeto de resgate do rio é também um projeto de reinvenção do Recife como bem disse o prefeito Geraldo Julio no dia da apresentação. Por ironia do destino, mesmo abandonado, ele está lá, cruzando a cidade de oeste a leste e preservando um grande corredor de integração capaz de recosturar o território recifense e articular todas as áreas verdes urbanas num grande parque da cidade (vale a pena dar uma olhada na apresentação feita que está no site: parquecapibaribe.nuvebs.com). Com um bônus adicional: fazendo isso e avançando a área de abrangência do parque,que é 500 metros de cada lado do rio, para 2.000 metros, é possível até 2037, quando o Recife completa 500 anos, fazer uma cidade parque.
Sim, isso mesmo, o Recife ainda tem jeito e esse jeito depende do Capibaribe, capaz de regenerar-se e, neste movimento, criar um grande parque da cidade que pode transformar o Recife numa cidade parque em 20 anos. Não podemos perder essa oportunidade que é, literalmente, a última. Vamos lá, o Recife e o rio merecem o esforço!
*Artigo publicado na edição 98 da revista Algomais (www.revistaalgomais.com.br).