por Francisco Cunha, sócio da TGI Consultoria em Gestão
Horário eleitoral e os debates foram mais usados para autoelogio do que para confrontar programas.
Concluídas as apurações do primeiro turno das eleições de 2014 para a Presidência da República, duas coisas ficaram muito evidentes:
(1) houve muito pouca discussão de propostas para o País por parte dos candidatos; e (2) a disputa será acirradíssima no segundo turno.
De fato, embora tenhamos avançado muito em termos de aperfeiçoamento tecnológico da democracia brasileira (a quarta do mundo em quantidade de eleitores, suplantada apenas pela Índia, pelos EUA e pela Indonésia), com a urna eletrônica e a apuração em tempo recorde (na noite do domingo do primeiro turno já se conheciam os eleitos), ainda deixamos muito a desejar em termos de discussão de propostas. Os tempos do horário eleitoral e dos debates entre candidatos foram mais usados para autoelogio e apontar erro dos adversários do que para confrontar programas de governo.
No segundo turno, a par da disputa acirradíssima que se deve dar, é fundamental que tanto Dilma Rousseff quanto Aécio Neves digam muito explicitamente não só o que pretendem fazer com o País nos próximos quatro anos como promovam a discussão mais ampla possível dessas visões.
Aliás, um avanço que se poderia requerer na democracia brasileira seria um aperfeiçoamento da legislação de modo a obrigar o candidato a cargo executivo a fazer o registro da primeira versão do seu plano de governo junto com sua própria candidatura. Durante a campanha, o que se poderia fazer era discutir o proposto com a sociedade e, então, ter uma segunda versão até o fim a eleição. Deveria ser mais uma disputa entre propostas do que entre pessoas.
Isso pode parecer um apenas detalhe, mas não é. Afinal, o que, em tese, deveria sempre estar em questão numa eleição para cargos executivos, seriam os projetos de futuro dos candidatos e seus partidos para os municípios, para os estados ou para o País. E, não, a estampa, história de vida ou a simpatia (ou não) do candidato.
Especialistas dizem que não é a melhor proposta que ganha eleição mas, sim, o candidato que consegue se comunicar melhor. Tudo bem, nada contra a boa comunicação, muito pelo contrário. Todavia, penso que no Brasil nos últimos tempos está havendo uma hipertrofia dessa máxima. Candidatos que ganham eleição com boa comunicação mas sem propostas consistentes são como sacos vazios que não se mantêm de pé. Vamos acompanhar o segundo turno, torcer e votar para que os candidatos se mantenham de pé e seja eleito aquele que apresentar a melhor proposta para o País.
*Artigo publicado na edição 103 da revista Algomais (www.revistaalgomais.com.br).