por Fernando Braga, sócio da TGI Consultoria em Gestão
O líder público deve compreender o contexto político, social e econômico
Líder estratégico é aquele que detém a “arte de conduzir a tropa para a vitória”. E quando a definição do que é vitória não está clara e nem todas as pessoas lideradas fazem parte da “tropa”?
Observa-se cada vez mais a promoção de práticas empresariais para a gestão pública, o que sem dúvida pode trazer benefícios. Ferramentas e práticas de gestão empresarial, como gestão por processos, balanced scorecarde elaboração de planos de ação são de grande utilidade, mas igualar as necessidades da gestão pública às organizações privadas pode ser uma grande armadilha.
É importante acrescentar novas variáveis, pois boa parte dos atores que produzem os resultados não está sob governabilidade da gestão (apenas os gestores públicos e servidores estão neste conjunto) e a própria definição de resultados para a sociedade é difusa, heterogênea e pode abrigar fortes contradições entre as partes envolvidas.
Empresas, movimentos e organizações sociais e os cidadãos têm suas próprias estratégias. A liderança pública no mundo de poder compartilhado tem o desafio de assumir a coordenação de um processo de que tem três características marcantes:
1. Nenhuma das partes envolvidas (empresários, movimentos sociais, poderes Executivo, Legislativo, Judiciário etc.) tem legitimidade suficiente para tomar decisões unilateralmente.
2. Muitas organizações estão envolvidas, são afetadas ou interferem parcialmente nos resultados. E com o amadurecimento do espírito democrático, cada vez haverá maior pressão por espaço nas consultas e decisões e maior participação popular em questões cada vez mais localizadas e específicas.
3. A informação é incompleta e não é distribuída uniformemente entre os atores.
Isso resulta num processo decisório complexo por conta dos conflitos de interesses e em decisões tomadas após um processo de barganha e negociação em que geralmente há ganhadores e perdedores.
Portanto, a tomada de decisões em situações de poder compartilhado dificilmente segue uma estrutura direta (tem muitas idas e vindas, em diversas instâncias) e tem como base a administração dos enfoques político, técnico, legal e ético para construir acordos que efetivamente possam ser desdobrados em ações.
Assim sendo, o líder público tem os desafios de compreender as variáveis e seu contexto político, social e econômico; entender os envolvidos e seus modelos mentais (e a si próprio); desenvolver equipes de trabalho em diversas instâncias; articular redes e comunidades inter-organizacionais; fazer cumprir leis e normas e criar condições para formular e implantar decisões políticas com participação cidadã.