No mundo de poder compartilhado em que vivemos, a sociedade cada vez mais expressa suas demandas e tem influência sobre os empreendimentos e projetos que são desenvolvidos nas cidades. Entretanto, muitas vezes essa participação se dá de forma adversária aos projetos, que frequentemente só ganham visibilidade quando estão próximos à etapa de execução.
Esse tipo de relação só traz prejuízos à sociedade: aos grupos que se opõem aos projetos, pela posição de extrema oposição que precisam assumir para conseguirem barganhar algo, e aos proponentes dos projetos, que têm suas iniciativas paralisadas pelas pressões da sociedade.
No sentido de produzir ganhos efetivos para todos, é necessário reverter esse quadro. Projetos para o desenvolvimento são importantes, mas estes precisam cumprir sua função social ao mesmo tempo que não podem comprometer os recursos das gerações futuras.
Para a reversão desse tipo de relação, é necessário que haja um engajamento efetivo dos stakeholders nas discussões sobre projetos.
Isso significa um mapeamento coerente, incluindo partes interessadas, afetadas e que podem afetar os projetos, dando destaque às minorias (que podem arcar com impactos bastante negativos); e um engajamento desde o início do processo, possibilitando a influência na concepção do projeto e a proposição de iniciativas mais efetivas de mitigação dos impactos, e não apenas sua modificação, com ajustes compensatórios ou incrementais após o projeto estar (quase) concluído.
Esse tipo de iniciativa necessita de esforço gerencial, disposição real para o diálogo e capacidade de articulação e de mediação de conflitos, que podem ser recompensados com ganhos expressivos: a geração de um sentimento coletivo de propriedade sobre o projeto e a redução do antagonismo entre as partes, possibilitando uma criação conjunta.
Para tanto, vale ressaltar as diferenças entre os tipos de engajamento: (a) consulta, que é uma comunicação de mão única e pontual; (b) colaboração e diálogo, que compreendem um processo mais sistemático e com poder de influência e com feedback para os stakeholders sobre suas contribuições; e (c) parcerias, que significam um modo conjunto de trabalho com o compartilhamento dos mecanismos de decisão.
A promoção da colaboração e da parceria com os stakeholders demanda competência em gestão e é uma oportunidade para empresas e governos estarem na vanguarda da gestão de impactos: poucos países têm o processo funcionando com engajamento efetivo dos stakeholders.
Para isso, precisamos começar o quanto antes, pois será trilhado um longo caminho de articulação e reparação do nosso tecido social.