NA MEDIDA
MAIS QUE COPIAR PADRÕES CONSAGRADOS DE GOVERNANÇA, O IMPORTANTE, SEGUNDO CÁRMEN, É ENCONTRAR UM MODELO PRÓPRIO PARA A EMPRESA QUE LEVE EM CONTA SUA HISTÓRIA E CARACTERÍSTICAS
Para consultora da TGI, governar empresa é como ter um estilo próprio de vestir e não precisar seguir modismos.
Uma boa gestão, como de resto a vida, exige cumprir ritos e seguir padrões, de modo a criar identidade – comum, preservar valores culturais, adaptar-se ao ordenamento social vigente e produzir do melhor modo, considerando o que a ciência e a tecnologia provaram ser possível. Isso é necessário e tem ganhos. Além disso, faz o mundo parecer seguro e familiar.
Mas, se isso fosse tudo, a humanidade se tornaria um exército de clones e as empresas um universo de colmeias – produtivas, ordeiras e todas iguais. O que torna a humanidade, e as empresas, uma miscelânea, viva, fascinante e em constante movimento de mudança não é o que todos têm em comum, mas aquilo que torna cada um singular.
A singularidade, de pessoas ou de empresas, vai se constituindo ao longo da história, nos movimentos impulsionados pelos sonhos e desejos, em busca de algo que dê sentido a cada vida ou a cada empreendimento, nas produções criativas, no jeito próprio de ser e de agir. É no dinamismo dessa história que se consolidam as identidades e se desenvolvem os atributos que criam uma marca, distinguindo uns de outros e fazendo com que pessoas e negócios sejam reconhecidos como únicos e diferenciados.
No mundo organizacional, a questão da governança corporativa (conjunto de práticas que procura assegurar, por parte dos sócios ou acionistas, o controle, a qualidade e a efetividade da gestão de uma empresa) pode ser pensada à luz desse dinamismo – padrões versus singularidade.
Ter governança corporativa tornou-se imperativo, com exigências explícitas e modelos bem definidos, supostamente assegurando um ambiente de negócios seguro e confiável. Mas formalizar modelos, buscando dar segurança para todos os stakeholders – acionistas, investidores, parceiros, fornecedores, clientes, empregados – permite entrar no figurino, mas não tem impedido escândalos corporativos, derrocada de negócios aparentemente seguros ou falências supostamente surpreendentes.
Aliás, tanto o escândalo quanto a surpresa resultam do enfrentamento de uma contradição, quando se pensa: ¨como é que alguém tão isso ou tão aquilo foi capaz de tal coisa¨?!
No mundo da moda feminina há um conceito – o vestido clássico preto criado pela estilista francesa Coco Chanel popularizado como o “pretinho básico” – que se presta como alegoria para os modelos de governança. Um “pretinho” é um modelito básico, que cabe em qualquer situação e é peça importante no guarda roupa feminino, mas não suficiente para tornar uma mulher elegante; a elegância demanda outros requisitos, próprios
de cada uma. E se, num evento, todas as mulheres estivessem com o mesmo vestido, em si elegante, seria um vexame para cada uma; uma catástrofe para todas.
Assim é com a governança corporativa; há que ter modelos já validados como referência, mas não há que copiá-los, nem pensar que são suficientes, por si sós, para consolidação. Há que saber, também, o que é essencial fazer para que a empresa desenvolva as qualidades dessa governança e há, principalmente, que buscar o melhor modelo para cada empresa, aquele que considera a história, as características específicas, as necessidades próprias de cada realidade e, não, usar só por que é “clássico” ou está na moda. Pode “cair mal” se não for usado sob medida.
Se respeitar a história e as necessidades singulares na construção do modelo de governança é um requisito de bom senso para qualquer empresa, no caso das empresas familiares torna-se, então, imperativo. A história de uma empresa familiar está vinculada aos valores, às tradições e ao dinamismo próprio de cada família. Quando a empresa avança na profissionalização e desenvolve seu modelo de governança, essa base familiar precisa ser ultrapassada, mas não pode ser negada, porque é a própria alma da empresa.
Analisar com cuidado os modelos e suas implicações, conhecer as experiências bem sucedidas e os insucessos, distanciando-se das padronizações “de vitrine”, são referenciais importantes para desenhar o “modelito” básico – necessário, mas não suficiente. Será o singular exatamente aquilo que vai favorecer um desempenho diferenciado, resultados efetivos, imagem de credibilidade, reconhecimento e confiabilidade. Se uma empresa consegue isso, terá o que há de melhor em governança corporativa sem precisar ser igual a ninguém.
Para as empresas pernambucanas, então, esse cuidado parece ainda mais presente face às novas exigências competitivas globais, nacionais e locais somadas. Todavia, a máxima atenção faz-se necessária para evitar os modismos e para não frustrar uma prática tão importante por ditame da moda.
Ótimo texto. Super atual para os dias de “vacas magras” onde muitos gestores ficam buscando soluções mágicas e mirabolantes. Há de se buscar mecanismos próprios e adaptados a cada realidade.