Em meio à crise mais profunda dos últimos 25 anos, a economia brasileira passa por um período de purgação. Neste contexto nacional de recessão e crise fiscal, Pernambuco e o Recife foram também fortemente impactados. Todavia, como em outras crises anteriores que o Brasil enfrentou, esta também vai passar.
Quando isso deve acontecer e o que pode e deve ser feito até lá, foi apresentado pelo consultor Francisco Cunha, diretor da TGI Consultoria em Gestão, durante o lançamento da Agenda TGI 2016, realizado no Teatro RioMar, no dia 30 de novembro de 2015. Durante o evento, Francisco falou para mais de 600 empresários, executivos, imprensa, autoridades e profissionais convidados em torno do tema Saídas da Crise. Quando deve acontecer a retomada do crescimento e o que fazer até lá.
A partir de uma análise geral, Francisco Cunha apresentou a situação atual do Mundo, a partir de três principais mercados – Estados Unidos, Europa e China – e os impactos no Brasil. Sobre os Estados Unidos, o consultor destacou o aumento os juros como principal fator de risco para o Brasil. “Desde a crise de 2009, os EUA vem praticando uma política monetária frouxa, com juros bem baixos. Agora, sinaliza a possibilidade de elevar os juros. E, com isso, vem a possibilidade do fluxo de capitais para o Brasil ser impactado. Esse é o risco para o nosso País no próximo ano vindo da América do Norte”, comenta.
Em relação à China, a redução do ritmo de crescimento praticado pelo país deve ter impacto sobre a demanda pelas commodities brasileiras. “Nos últimos trinta anos, a média de crescimento da economia chinesa, foi próximo a 10% ao ano. Esse ritmo de crescimento se mostrou exigente para a economia chinesa. E, agora, deve cair para o patamar próximo aos 7% e manter-se assim pelos próximos anos”, afirma.
Na Europa, de acordo com Francisco, tem-se verificado um constante risco de descontrole do Euro. “Essa tentativa de unificação monetária de um continente tão diverso, sempre deixa a impressão de que algo não vai bem com a economia. Além disso, mais recentemente, a Europa tem sofrido com a grave crise social do seu entorno (África e Oriente Médio) que se caracteriza pela pressão migratória em suas fronteiras. Uma leva permanente de refugiados que tentam entrar no continente europeu”. Além disso, o terrorismo, a partir do último ataque à cidade de Paris, mostra-se forte e com impacto direto na economia e na sociedade européia.
E como fica o Brasil? Segundo Francisco Cunha, no enfrentamento à conjugação de duas graves crises: econômica e política. Gravidade essa que fomenta uma crise ainda maior de expectativas. A desconfiança da população faz diminuir o consumo e há uma redução acentuada dos investimentos.
Para Cunha, as pessoas se desacostumaram a grandes crises. Já que de 20 anos pra cá, houve uma melhoria contínua da economia e das condições sociais. Para ilustrar e contextualizar a apresentação, Francisco faz um resgate dos planos econômicos que marcaram a história do País, nas décadas de 80 e 90, um total de sete em sete anos (Plano Cruzado, Plano Cruzado II, Plano Bresser, Plano Verão, Plano Collor, Plano Collor II e o Plano Real), entre os anos de 1986 a 1993. Com sete moedas durante esse período, tendo a inflação atingido o índice de 82,39% no último mês do governo Sarney. “Com o Plano Real, o Brasil retoma a estabilidade e, a partir daí, a gente pode dizer que tivemos três décadas de avanços”, acrescenta. E apesar da situação difícil atual, essa, com certeza não é a pior das crises.
Para ele, Pernambuco, por exemplo, está mais fortalecido, embora venha sofrendo com o severo ajuste fiscal federal. O Estado recebeu grandes investimentos industriais e outros que ajudam a segurar o momento, mesmo requerendo trabalho árduo dos agentes econômicos e do governo.
Por sua vez, o Recife apesar de também fortemente impactado pela crise fiscal, deverá seguir com o pioneiro foco no planejamento de longo prazo. Destaque para o Projeto Recife 500 Anos, iniciado este ano. Nesta abordagem de longo curso, o projeto Parque Capibaribe com a possibilidade de transformação do Recife numa cidade-parque até 2037 segue como caminho mais viável e inovador para os intensos desafios de longo prazo da cidade.
Francisco acredita que a crise nacional ainda vai continuar até 2017, e o pior período será até o fim do primeiro semestre de 2016. Mas, e aí, qual a saída? “Existem dois ângulos de análise: para o primeira, de fora para dentro, não tem muito o que fazer. Trata-se de observar e esperar passar. Mas, de dentro pra fora, internamente nas empresas, alguns cuidados ajudam a enfrentar a turbulência. Primeiro, cuidando do caixa. Segurar despesas e alguns investimentos mais onerosos. Realmente investir no que é essencial à empresa. Depois cuidar das pessoas. O maior bem de uma empresa são os empregados. Se tiver que reduzir o quadro, que seja com todo o respeito, preservando ainda um ambiente saudável para quem fica”, orienta o consultor.
Outro ponto, de acordo com Francisco, é manter a comunicação transparente. Deixar a equipe ciente do que está acontecendo na empresa, não esconder a informação, é a melhor saída. Quanto mais clara a comunicação, melhor para a organização. E tentar driblar a conjuntura ruim inovando. Esse período de crise pode significar oportunidade. É essencial inovar no atendimento e oferecer novos serviços. Tudo com a certeza de que a crise vai passar e, quando isso acontecer, as empresas estarão mais fortalecidas e estabilizadas.