No dia primeiro de julho de 1994, o Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, lançava o plano de estabilização econômica de maior sucesso da história do Brasil porque baixou uma inflação crônica de 30% ao mês para taxas que permanecem próximas de 1%, dois anos depois.
A lógica do plano era: “ancorar” o real ao dólar (âncora cambial), de modo a expor os preços internos à concorrência dos preços internacionais, enquanto não se faziam as reformas constitucionais (previdenciária, administrativa e tributária) que possibilitassem o equilíbrio definitivo do orçamento e mudassem a sustentação do plano para a âncora fiscal.
Ocorre que, com a crise cambial do México em dezembro/94, a equipe econômica viu-se obrigada a aumentar de forma cavalar os juros internos para evitar a fuga de dólares e não transformar em isopor o lastro da âncora em vigor (as reservas cambiais). Com isso, foi lançada a segunda âncora do plano (âncora monetária).
Seguiu-se uma grande quebradeira de empresas e bancos sem que, neste meio tempo, as reformas estruturais avançassem um milímetro sequer no Congresso.
Dois anos depois, o governo dá sinais de que mudou de estratégia, abandonou as reformas no Congresso e parte para potencializar o único trunfo político que de fato tem: a inflação baixa. Para isso, vai lançar mão das reformas “infraconstitucionais” e já começou com um corte violento no orçamento em vigor para segurar o déficit público.
As recentes projeções do Banco Central, com as quais o presidente trabalha, apontam a continuidade da queda da inflação com base na âncora cambial.
Moral da história: tudo leva a crer que o governo vai radicalizar aquele que seria o seu cenário intermediário, transformando-o em cenário principal até o fim do atual mandato presidencial, para chegar no ano eleitoral de 98 com a inflação literalmente derrubada e o campo preparado para a reeleição do presidente. É o Cenário Argentino.
Nele, a estabilização definitiva, com o lastro da âncora fiscal, fica adiada para o próximo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Isto é, se as variáveis-chave permanecerem precariamente equilibradas, como pretendido.
Até lá, as empresas terão de continuar convivendo com praticamente as mesmas variáveis relevantes de hoje: juros altos, ainda que em declínio, crescimento moderado da economia, câmbio valorizado, crédito restrito e caro, ausência de política regional, concorrência feroz, aumento da “dívida social”, fortíssima pressão de custos, preços estabilizados.
O mar, portanto, ao que tudo indica, vai continuar revolto e mais cheio de perigos do que talvez fosse necessário nos próximos anos do Plano Real.