Karol Wojtyla, o papa midiáticoque manteve a Igreja Católica no século 20

 
 
 
Com a sucessão do seu 264o. papa, a Igreja Católica depara-se com um desafio considerável: substituir a contento aquele que foi o mais midiático dos seus representantes.
Ator na juventude, João Paulo II desenvolveu em seu pontificado de quase 27 anos, o terceiro mais longo da História da Igreja, uma notável capacidade de divulgação da fé católica usando com maestria incomum a mídia de massa, característica marcante do século 20. Do ponto de vista da comunicação, não é exagero dizer, ele trouxe a Igreja para a era global.
“Transformou uma Igreja bastante romana numa Igreja mundial.”
Débora Berlinck, Agência O Globo
Em sua viagens pelos cinco continentes (visitou nada menos que 132 países nos quais mobilizou mais de 300 milhões de católicos que acorreram ao seu encontro) Karol Wojtyla prestou um serviço inestimável à manutenção e à propagação da fé católica. Ao morrer deixa um contingente de mais de 1 milhão de católicos que sem ele teria, por certo, minguado bastante. Só num evento em comemoração ao Dia Mundial da Juventude, em Manila, capital da Filipinas, no ano de 1995, chegou a reunir 4 milhões de jovens diante do seu carisma.
“Nenhum dirigente nacional, nenhum pop star teve o impacto de sua presença, de sua roupa branca, de seus cabelos também brancos, desalinhados pelos ventos de todos os quadrantes da Terra, de sua voz majestosa.”
Carlos Heitor Cony, escritor, FSP, 03.04.2005
Além do desempenho desse relevante papel de divulgação, teve atuação destacada no desmoronamento do império soviético que combateu desde o início como militante católico e clérigo engajado em sua Polônia natal.
Esteve, também, no centro de todos os esforços do seu tempo pela paz mundial, sempre defendendo o fim dos conflitos bélicos. Na recente investida norte-americana contra o Iraque, dizem que chegou a cogitar a ida a Bagdá, antes da declaração de guerra, para desencorajar a investida de George W. Bush.
O contraponto de sua impressionante atuação para fora da Igreja foi um inusitado conservadorismo para dentro. Com mão de ferro unificou a doutrina e enquadrou todos os movimentos internos de liberalismo, dentre os quais a Teologia da Libertação latino-americana.
“Seria bom que o próximo papa restabelecesse o debate na Igreja. João Paulo II acabou com ele.”
Flavio Pierucci, sociólogo, USP, GloboNews, 03.04.2005
Como instituição duplamente milenar, um prodígio de perpetuação na adversidade, a Igreja Católica sempre soube encontrar os melhores caminhos para sua continuidade. Agora, mais uma vez, ela defronta-se com o futuro. Para isso, a conservação é tão necessária quanto o progressismo. João XXIII, foi um notório progressista sucedido por dois conservadores, Paulo VI e João Paulo II (já que o pontificado de 33 dias de João Paulo I, encerrado prematuramente com sua morte, não conta).
“João XXIII trouxe a Igreja para o século 20 e João Paulo II a manteve nele.”
Mario Sergio Cortella, teólogo da PUC-SP
Fazer a Igreja entrar no século 21 é a grande tarefa do sucessor de João Paulo II. Fazê-la elaborar, conforme expressão do jornal Valor Econômico de hoje, “respostas adequadas e eficientes para fenômenos como a liberdade moral, sexual, o aborto, o homossexualismo, o individualismo, o consumismo, a secularização (a perda de influência de instituições e preceitos religiosos para o mundo laico)”. Tudo isso, num mundo cada vez mais interligado pela mídia instantânea e pela internet. Uma tarefa e tanto que vamos acompanhar ao vivo nos próximos dias.

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