14 de março de 1985, tarde da noite. Na TV, começam a aparecer as primeiras notÃcias dando conta de que o presidente eleito Tancredo Neves, que tomaria posse no dia seguinte, havia sido internado no Hospital de Base de BrasÃlia para submeter-se a uma cirurgia de urgência.
Começava naquele momento uma agonia pessoal e uma comoção coletiva que se prolongaria por 39 intermináveis dias até a morte, aos 75 anos, por infecção generalizada. A cena indescritivelmente triste da subida do caixão pela rampa, carregado pelos Dragões da Independência, para o velório no salão nobre do Palácio do Planalto, ficou marcada de forma indelével na mente de todos os que viveram aqueles inacreditáveis dias.
âFoi um perÃodo em que o PaÃs parou, literalmente parou. O governo parou esperando a volta de Tancredo – e, a partir de certo momento, sua morte. Os negócios pararam. Os brasileiros acompanharam pela mÃdia cada nova operação (foram sete ao todo), cada novo boletim médico emitido, cada entrevista de que saÃsse do Hospital de Base e, depois, do Instituto do Coração em São Paulo para onde Tancredo fora transferido. Finalmente, no começo da noite do dia 22 de abril, o caixão com o corpo de Tancredo subiu a rampa do Palácio do Planalto.â?
Ricardo Noblat, jornalista
Quem quiser conhecer ou recordar esse perÃodo quase surrealista da polÃtica nacional, pode consultar o excelente blog do jornalista Ricardo Noblat (noblat.blig.ig.com.br) onde é reconstituÃdo, passo-a-passo, o desenrolar dos acontecimentos no final daquele fatÃdico dia 14, na madrugada e na manhã do dia 15, até a posse do vice-presidente eleito José Sarney.
A posse que não houve coroaria uma vida polÃtica que começou, aos 24 anos, como vereador da cidade mineira de São João Del-Rei, depois deputado estadual, deputado federal, ministro da Justiça de Getúlio Vargas, primeiro-ministro do regime parlamentarista sob a presidência de João Goulart, senador e governador de Minas Gerais.
Nessa respeitável trajetória, Tancredo esbanjou habilidade polÃtica, exercitando ao extremo a conversação e a articulação em nÃveis elevados. Definia-se como um moderado e esteve envolvido em todos os episódios relevantes da vida polÃtica do paÃs, desde o suicÃdio de Vargas (que praticamente morreu em seus braços e nos da filha Alzira Vargas e de quem herdou a caneta-tinteiro que, diz a lenda, assinou a famosa carta-testamento), até a sua eleição indireta para a presidência da República pelo colégio eleitoral, cargo para o qual sempre deu a impressão de preparar-se durante a vida toda.
“Ele se preparara para aquele dia. Toda sua vida fora construÃda nessa direção. Ele ambicionava dirigir a nação, ele tinha a ambição dessa causa.”
José Sarney, ex-presidente do Brasil
De fato, a conquista da presidência foi uma obra de engenharia polÃtica construÃda com paciência e competência notáveis. Tancredo conseguiu capitalizar toda a energia do movimento Diretas Já a favor de sua candidatura, percorrendo o PaÃs como se fosse candidato direto, num pleito indireto. Fundou a Nova República e consegui tornar-se unanimidade nacional para conduzi-la. Quis o destino que morresse, justamente, em dia 21 de abril, dia consagrado ao seu conterrâneo Tiradentes a quem homenageou no discurso comemorativo da vitória no colégio eleitoral em 15 de janeiro de 1985:
“Se todos quisermos, dizia-nos há quase 200 anos, Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança, poderemos fazer deste PaÃs uma grande nação. Vamos fazê-la.”
Tancredo Neves, presidente eleito do Brasil