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 A semana que passou foi pródiga em notÃcias cuja interpretação ajuda a situar o raciocÃnio sobre as tendências do desenvolvimento e a conjuntura econômica do paÃs.
Primeiro foi a divulgação do relatório “Mapeando o Futuro Global” elaborado pelo Conselho de Inteligência Nacional dos Estados Unidos que reúne as 15 agências de inteligência do paÃs (tem a sigla NIC em inglês) e é coordenado pela famosa Agência Central de Inteligência, a CIA. Em resumo, o estudo aponta que dentro de 15 anos o Brasil, junto com a China, a Ã?ndia e Indonésia serão atores globais de peso capazes de provocar transformações significativas na geopolÃtica mundial.
“China, Ã?ndia, Brasil e Indonésia têm o potencial de tornar obsoletas as antigas categorias de Leste e Oeste, Norte e Sul, alinhados e não-alinhados, desenvolvidos e em desenvolvimento.”
Mapping The Global Future, NIC, 2005.
Sobre o Brasil especificamente, o documento faz algumas considerações, dentre as quais merece destaque a seguinte:
“Um paÃs com vibrante democracia, economia diversificada e população empreendedora, um grande patrimônio nacional e sólidas instituições econômicas.”
Mapping The Global Future, NIC, 2005.
Esse tipo de análise segue a mesma linha do estudo realizado pelo banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs que prevê a ascensão mundial neste século do bloco BRIC (Brasil, Rússia, �ndia e China) (ver GH número 499).
Todavia se, no médio e longo prazos, vai ficando evidente a percepção da emergência do paÃs como ator relevante no cenário mundial, no curto prazo as dúvidas se acentuam.
Especialmente na quarta-feira passada, com a divulgação de três grandes números que ilustram bem a natureza essencial dessas dúvidas, elas ficaram bem assinaladas.
Em primeiro lugar foi anunciado o crescimento de 11% em 2004 da dÃvida pública que atingiu, em dezembro passado, o valor de R$ 812 bilhões, R$ 80,5 bilhões a mais do que um ano antes. Esse crescimento deveu-se aos altos juros que o governo tem que pagar pela remuneração dos seus tÃtulos.
Em segundo lugar foi divulgado o crescimento de 10,47% em 2004 da arrecadação federal de impostos que bateu novo recorde ao amealhar o nada desprezÃvel montante de R$ 333,6 bilhões, boa parte do qual destinado, justamente, ao pagamento de juros aos detentores dos tÃtulos da dÃvida pública.
Por último, foi divulgada a notÃcia da elevação pelo Copom da taxa básica de juros para 18,25%, a quinta consecutiva desde setembro de 2004. Essa elevação provocou o isolamento do Brasil no topo do triste ranking dos juros reais mais altos do planeta (mais de 12%).
Juros altos, dÃvida alta, tributação alta, numa ciranda perigosa e emperradora do desenvolvimento, como denuncia o economista da PUC de São Paulo:
“Estamos num cÃrculo vicioso, coletando impostos para pagar dÃvidas que sobem com a elevação dos juros. Isso não leva a lugar nenhum.”
Antônio Correia de Lacerda, Dinheiro, 26.01.2004.
O dilema do paÃs é, justamente, esse: boas perspectivas de médio e longo prazos, reconhecidas por observadores internacionais de peso, mas muitas dúvidas no curto prazo sobre a capacidade de superar os entraves do desenvolvimento sustentado. Tudo indica que 2005 será um ano decisivo para a definição dos cenários futuros. Se conseguirmos sustentar o crescimento, terá sido dado um passo importante.