Enquanto o Gestão Hoje tratava do “Mundo Plano” (ver números 578, 579 e 580), em Brasília a classe política se encarregava de “aplainar” ainda mais o já bastante maltratado terreno da moralidade pública. Resultado: saiu do governo, junto com o ministro Antonio Palocci, boa parte da equipe econômica do governo Lula, configurando um dos mais impressionantes desfalques já vistos numa equipe governamental e no partido que lhe dá sustentação.
“A saída de Palocci deixa Lula sem os chamados ‘integrantes do núcleo duro’, pessoas de extrema confiança do presidente — somando-se à saída de Dirceu e ao rebaixamento de Luiz Gushiken, que perdeu o status de ministro.”
Sheila D’Amorim, jornalista, Folha de S. Paulo 28.03.06
Desde a saída de José Dirceu do ministério, em junho do ano passado, no início da crise política, já foram defenestrados do PT ou do governo: Sílvio Pereira (ex-secretário-geral do PT), Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT), José Genoino (ex-presidente do PT), Duda Mendonça (ex-publicitário da Presidência da República) e Antonio Palocci. Sem falar dos deputados da base aliada que renunciaram ou foram cassados. Com isso, o presidente vai ficando cada vez mais só, o que configura uma situação, do ponto de vista do governo, muito delicada como define, com propriedade, o cientista político da Universidade de Brasília.
“Hoje, para bater no governo tem que bater no Lula porque não tem mais em quem bater.”
Octaviano Nogueira, GloboNews, 02.04.06
O resultado prático de toda essa chafurdação é uma situação política bastante complicada, às vésperas do início efetivo da campanha eleitoral.
“O país está nervoso, o governo está nocauteado, o Congresso está agitado, o alto Judiciário está mal visto, a opinião pública está indignada e Lula está alienado.”
Jânio de Freitas, Folha de S. Paulo 28.03.06
Como se não bastasse tudo isso, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), publicou no meio da confusão, suas Notas Econômicas 89 dado conta das conseqüências do baixo crescimento econômico do país, em comparação com o crescimento mundial.
“A média de expansão do PIB per capita nos últimos dez anos foi de 0,7% ao ano. Assim, se o Brasil mantiver esse ritmo de crescimento levará um século para conseguir dobrar a renda per capita. Ou seja, mantido o ritmo atual de expansão, o Brasil levará um século para chegar próximo à atual renda per capita de Coréia do Sul ou Portugal.”
CNI Informa, março/2006
País sem sorte o Brasil. Como se não bastasse o deprimente espetáculo da política, ainda vai ficando para trás na economia mundial, perdendo a oportunidade ímpar da melhor situação internacional dos últimos 50 anos. E, a julgar pelo que se desenha para a campanha que se inicia, de fato, agora, tanto o quadro político como, por decorrência, o econômico, têm muito pouca chance de melhorar. As previsões, portanto, não são nada boas.
“A conclusão que se tira é que, em tempo de eleições, não existem certezas, só previsões. E a previsão é que, desde 1989, nenhuma campanha promete ser tão suja quanto esta.”
Luís Nassif, Folha de S. Paulo, 29.03.06