Do jeito que está é melhor vender aempresa e aplicar no mercado financeiro

 
Conforme foi comentado no Gestão Hoje da semana passada (número 475), é muito árdua a luta pela sobrevivência empresarial no Brasil em razão, principalmente, da elevadíssima carga tributária (próxima de 40% do PIB, uma das maiores do mundo) e a maior taxa básica de juros do planeta.
Do ponto de vista competitivo essa mistura é explosiva e, em muitos casos, fatal. Sufocadas pelas dívidas com o governo e com os bancos, as empresas defrontam-se, hoje em dia, também, com forte desaquecimento da demanda provocado pela queda da renda dos consumidores (de 14% no último ano e de 25% entre 1997 e 2003) e pelo endividamento recorde das pessoas físicas, sobretudo as mais pobres.
“Os impostos devoram um terço da renda mensal, e o pessoal que é pobre vai para o mercado de crédito e paga 300% ao ano de juros. O pobre é quem mais paga impostos e juros no País.”
Joelmir Beting, IstoÉGente, 08.03.2004
Cortadas pela alta carga tributária, drenadas pelos juros abusivos e desnutridas pela demanda fraca, as empresas vêem-se diante da forte tentação da informalidade. De acordo com as informações do Censo de 2000, dos 66 milhões de pessoas empregadas naquele ano, apenas 34 milhões tinham carteira de trabalho assinada. Ou seja, praticamente, 50% da mão de obra empregada está na informalidade. Um índice, para se dizer o mínimo, alarmante.
E como se isso não bastasse, vem o novo ministro da Previdência (o senador Amir Lando) propor a elevação da alíquota do INSS como forma de tapar um novo rombo surgido no sistema estatal de aposentadorias.
O fato positivo foi que houve uma verdadeira onda de indignação ante a proposta indecente do ministro, o que mostra o nível de saturação que o problema já atingiu no âmbito da sociedade civil organizada.
A situação é tão crítica que estudo recente publicado pela Folha de S. Paulo dá conta de que é mais vantajoso para o empresariado, do ponto de vista financeiro, vender suas empresas e aplicar o dinheiro em juros.
“A rentabilidade média de grandes empresas brasileiras no último triênio perde para a dos títulos públicos. Os números mostram que as empresas analisadas (…) lucraram na média dos últimos três anos, 7,8% sobre o capital investido. No mesmo período, aplicar num papel do governo, que rende aproximadamente os juros pagos pelo CDI, garantiu uma média de retorno de 19,88% por ano.”
Folha de S. Paulo, 21.03.2004
Que futuro tem a livre iniciativa num país em que durante anos seguidos aplicar em papéis de baixo risco confere um ganho 2,5 vezes superior ao obtido com o investimento na produção? Uma coisa é certa: nenhuma sociedade resiste íntegra por muito tempo a uma elite constituída de rentistas e contraventores, desemprego recorde e um mercado de trabalho vicejando na informalidade. Explode mais cedo do que tarde.
O mais grave de tudo isso é que o governo Lula, eleito porque prometeu “mudar esse estado de coisas”, não só não está conseguindo como, nos últimos dias, anda mais perdido do que nunca, envolvido em crises e confusões de toda natureza.
Diminuir a carga tributária (e não aumentá-la como vem fazendo desde que iniciou), baixar os juros, promover a inclusão social, criar empregos e retomar o rumo do crescimento sustentado são tarefas bastante exigentes e não podem ser realizadas por governos fracos ou permanentemente em crise. Ou o governo reage e sai da letargia ou será atropelado pelos fatos, ficando a reboque de uma sociedade que já começa a dar sinais de exaustão. Torçamos pelo melhor.

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