Para diminuir a vulnerabilidade externa e evitar ficar refém da anunciada alta dos juros dos EUA, a economia brasileira precisa…
“… completar o ajustamento estrutural do balanço de pagamentos em conta corrente, introduzir controles preventivos na conta de capitais, administrar o perfil da dívida externa e reforçar o nível das reservas internacionais do país.”
Paulo Nogueira Batista Jr., FSP, 18.12.2003
A questão relevante é saber se vai dar tempo de fazer tudo isso antes do impacto que o fluxo de capitais para os países emergentes sofrerá, a partir de meados de 2004, ocasião em que os analistas vislumbram o início do aumento dos juros nos EUA.
“Uma parcela importante do aumento da liquidez internacional direcionada ao Brasil foi devida a fatores globais – e não domésticos. Por isso mesmo, é preciso cuidado na hora de traçar cenários para 2004. Lá fora, afinal, existe um mundo perigoso e cheio de desequilíbrios que pode mudar muito o humor dos mercados. Para piorar, some-se o provável aumento nas taxas de juros globais – um processo que já foi iniciado na Inglaterra e na Austrália e que se deve intensificar, mesmo no melhor dos mundos, a partir do segundo semestre de 2004.”
Paulo Tenani, revista Exame, 24.12.2003
As conquistas alcançadas em 2003 foram importantes mas se deram “ao nível do chão”, ou seja, da “estrutura” da economia. A vulnerabilidade externa (as “avarias no telhado”) não foram adequadamente atacadas. E quando o telhado está danificado, fica todo mundo com um olho no trabalho e outro no tempo. Se “nublar”, cada um corre para se proteger do “aguaceiro”. Reforçar a edificação da economia é importante mas o telhado não pode ser esquecido sob pena de se ver parte importante do esforço feito ir por “água abaixo” por falta de “cobertura” compatível com a reforma realizada.
É, mais ou menos, desse modo que se encontra a obra econômica empreendida pelo governo Lula: bem acabada mas com telhado avariado. Urge correr para fazer os reparos complementares, antes que comece a “chover”. Afinal, as pessoas estão acreditando que dá para retomar as atividades e, por isso, o próximo ano vai ser bom “desde que não chova”. Só que a “chuva” pode demorar mas vem porque, apesar das “mudança climáticas globais”, chover ainda não saiu de moda.
“… é possível que – como espera grande parte do mercado financeiro – o ano de 2004 seja marcado por uma recuperação cíclica da economia brasileira. Pela primeira vez em sua história recente, o Brasil entrou em uma dinâmica de círculo virtuoso, no qual taxas de juros reais tornam-se compatíveis com crescimento econômico e estabilidade da dívida pública. Porém 2004 deve ser também o ano da cautela.”
Paulo Tenani, revista Exame, 24.12.2003
Portanto, é aconselhável manter um olho nas oportunidades propiciadas pelo ajuste e outro nas obras do “telhado” para não ser pego de surpresa. Teoricamente a “estiada”, o período seco, deve ir até o início do primeiro semestre/2004, quando deve ser iniciada a mandinga de “fazer chover” do grande pajé Alan Greenspan (aumento da taxa básica de juros paga pelo Tesouro dos EUA).
Até lá, vamos cobrar do governo os ajustes complementares necessários para que não se reprise o filme “A Tempestade”, tantas vezes visto durante a era FHC. Vamos cobrar do governo empenho para mudar o enredo. Ninguém agüenta mais o mesmo final monótono e sem graça.