Apagão aéreo negligenciado provoca amaior crise militar desde a redemocratização

 
O mais novo episódio do que a mídia nacional já convencionou chamar de “apagão aéreo” só veio reforçar o entendimento de que aquilo que está aparecendo é apenas a ponta de um iceberg, conforme salienta o presidente da Federação Internacional das Associações dos Controladores de Tráfego Aéreo (Ifatca, na sigla em inglês).

“Eles só vêem a ponta do iceberg. E estão tentando resolver cortando a ponta do iceberg, só que aí o iceberg emergiu e é muito maior do que eles pensavam.”

Mark Baumgartner, presidente da Ifatca

É muito maior não só no que diz respeito à própria questão do controle do tráfego aéreo como, também, em relação à logística e à infra-estrutura nacional, da qual o transporte aéreo é apenas uma parte. Já lá se vão quase nove anos de um forte ajuste fiscal que subtrai recursos preciosos para a  manutenção e atualização da infra-estrutura para o desenvolvimento (ver, a propósito, o GH/614), em especial a relacionada ao transporte.

“Em matéria de transporte, o Brasil está assim: sistema aéreo em pane, estradas em destruição, ferrovias inexistentes e portos caindo aos pedaços. Crescer desse modo, quem há de?”

Dora Kramer, jornalista, Estado de S. Paulo, 06.04.07

Essa situação configura uma espécie de “fileira de dominó‿ cujas peças em queda terminam provocando a queda da peça da frente. E a completa embrulhada que o governo federal está provocando com o inadequado (para dizer o mínimo) tratamento da questão, só faz tornar a coisa mais dramática ainda.

“O apagão de seis meses revelou imensa incapacidade gerencial do governo. A recente crise gerada pela indisciplina dos operadores militares revelou grande inabilidade política.”

José Murilo de Carvalho, Estado de S. Paulo, 06.04.07

O historiador e acadêmico chama a atenção para a inacreditável situação a que o assunto foi levado, desembocando, inclusive, naquilo que os comentaristas políticos consideraram a pior crise militar após a redemocratização. Depois de desautorizar o comandante da Aeronáutica a tomar uma medida disciplinar contra os controladores militares amotinados e a dar sinal verde para uma negociação direta, o presidente da República teve que voltar atrás diante da ameaça de renúncia dos comandantes das três armas e do estado maior da Força Aérea.

“O presidente, altos membros de seu ministério e o próprio ministro da Aeronáutica saíram mais do que chamuscados do episódio. (…) No final, o presidente conseguiu descontentar a todos e reforçar a impressão de que, além de mau administrador, não é um interlocutor confiável.”

Leôncio Martins Rodrigues, Folha de S. Paulo, 07.04.07

Essa dura observação do cientista político e professor aposentado da USP e da Unicamp destaca a gravidade do episódio e o perigoso desgaste a que se submete o presidente da República, o que é muito ruim para a saúde das instituições. Afinal, o presidente é constitucionalmente o responsável pela direção superior da administração federal, além do comandante supremo  das Forças Armadas. Não deve mais postergar o enfrentamento conseqüente da questão. Sem isso, os prejuízos só se agravarão ainda mais.

“Precisamos de um plano com datas, dinheiro e roteiro definido. Precisamos de um responsável que articule todos os setores envolvidos.”

Fernando Gabeira, deputado RJ, FSP, 07.04.07

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