A mais recente turbulência no mercado financeiro internacional provocou perdas expressivas nas bolsas de valores ao redor do mundo. A de Nova York caiu 9%, a de Londres 12%, a de Paris 13%, a de São Paulo 16% e a da China 22%. Tudo por conta do estouro da bolha do mercado imobiliário dos EUA. Não se sabe ainda a extensão do estrago, se ele comprometerá ou não o crescimento mundial ou se é, apenas, um salutar ajuste cíclico de expectativas.
“Os mercados financeiros, e especialmente seus grandes atores, precisam ter medo. Sem ele, enlouquecem.”
Martin Wolf, colunista do Financial Times
E enlouquecem, sobretudo, no caso, para atender a demanda de uma economia movida a crédito como a norte-americana. Nos EUA o volume de crédito na economia corresponde a cerca de 150% do PIB ou algo próximo a US$ 17 trilhões (só para comparar: no Brasil é de 35% do PIB).
“Grande parte da poupança dos americanos está no mercado de ações, e o consumo no país é financiado, basicamente, por crédito. Se as ações continuarem se desvalorizando e a concessão de empréstimos se tornar mais seletiva como resultado da atual crise (que é uma crise de crédito), os americanos terão menos dinheiro para gastar com o consumo.”
Folha de S. Paulo, 19.08.07
Se os norte-americanos, por falta de crédito e de rendimento da poupança, gastarem menos com consumo, os EUA reduzirão suas compras da China que, por sua vez, diminuirá sua demanda por commodities (alimentos, minérios etc.) de países exportadores como é o caso do Brasil e, certamente, arrefecerá seu crescimento recorde de 10% ao ano, diminuindo a velocidade da grande locomotiva econômica do planeta. Só o temor da queda já reduziu o preço de várias commodities.
“Se os EUA ‘esfriarem’, é natural que a China e o resto do mundo esfriem. Em 2006, os EUA foram responsáveis por 19,7% do crescimento global. A China, por 15,1%; a União Européia por 14,7%; e o Brasil por 2,6%. Ou seja, 35% do crescimento mundial foi determinado por EUA e China, umbilicalmente ligados por uma relação comercial e financeira onde os americanos gastam e os chineses os financiam.”
Folha de S. Paulo, 19.08.07
Essa gastança norte-americana é histórica e tem-se agravado nos anos Bush com o crescimento acelerado dos “déficits gêmeos” (comercial e orçamentário) que já montam a cerca de US$ 2 bilhões por dia. Trata-se de um desequilíbrio insustentável do qual a bolha imobiliária é apenas um dos componentes. O enfrentamento destes déficits será, muito provavelmente, realizado pelo próximo governo de oposição democrata que sucederá o de George W. Bush no final de 2008. E será feito à base de uma recessão que será maior (hard landing) ou menor (soft landing) conforme a necessidade do momento e contra a vontade dominante dos norte-americanos por mais e mais crédito barato para consumo.
“A época da bolha da habitação nos EUA terminou. A pressão por injeções repetidas de financiamento barato não.”
Martin Wolf, colunista do Financial Times