A crise é de coordenação

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     Fernando Henrique Cardoso foi eleito porque soube administrar, politicamente, de forma brilhante um programa econômico criativo e de extraordinária precisão técnica.
    Pouco mais de 100 dias após iniciar o governo, enfrenta, talvez, a mais rápida regressão de expectativas da história republicana recente. Por que?
    É verdade que a brusca mudança do cenário econômico mundial, com a quebra do México, contribuiu bastante para a deterioração das condições de suporte do Plano Real. Mas isso, por si só, não é suficiente para deixar o governo desordenado como está.
    O fato é que o Presidente não conseguiu, ainda, desempenhar o seu papel de coordenador de uma equipe composta por bons valores individuais mas desprovida de quase total falta do que, na gíria futebolística, se chama de “conjunto.”
    A primeira experiência administrativa de FHC foi o Itamarati, uma máquina formada por profissionais de carreira que funciona sozinha, com ou sem ministro. Além disso, comandou, com êxito absoluto, uma equipe econômica homogênea, formada por técnicos sem pretensões políticas ou compromissos outros que a fidelidade ao ministro que os convocou para a missão de executar uma estratégia técnico-política bem definida. Aí, teve êxito absoluto.
    Agora, porém, à frente de um governo de coalisão, com uma equipe montada como se fora um quebra-cabeças político, esta experiência de coordenação é insuficiente.
    É preciso desenvolver um esforço novo de coordenação que, em essência, não pode ser delegado a ninguém, por mais “pendor” gerencial que tenha o ministro da Casa Civil, no fim das contas apenas mais um entre pares. Neste aspecto, o descuido tem sido quase que completo. Basta lembrar que a primeira reunião da equipe só foi feita com duas semanas do governo iniciado, depois do tiroteio deflagrado…
    Coordenar prá valer essa equipe politicamente heterogênea é tarefa que exige pulso firme, capacidade de diálogo, de convencimento, de negociação e de mediação de conflitos, tempo para dedicar a reuniões com todos os ministros ao mesmo tempo, convicção quanto à necessidade de mudar o país e disposição de construir compromissos da equipe com essas mudanças imprescindíveis.
    Nada disso falta a FHC, muito pelo contrário. Falta, isto sim, colocar em prática com esta equipe o que, absolutamente, não tem sido feito até o momento.
    FHC precisa mudar o foco de sua atenção, para a coordenação efetiva da equipe ministerial, até agora completamente solta. Ou faz a equipe fazer ou assiste, cada vez mais irado, o desmantelamento de uma possibilidade tão plena de esperança.