O inferno são os outros

    Esta frase do título é atribuída ao filósofo e escritor francês Jean Paul Sartre e ilustra com muita propriedade um sentimento bastante difundido nas empresas e organizações de um modo geral.

    É o sentimento de que os responsáveis pelos problemas e pelas dificuldades são os outros. As outras pessoas, os outros departamentos, o outro que é chefe, o outro que é subordinado, o outro que é concorrente e, até, o outro que é fornecedor ou cliente.

    Uma pesquisa realizada pela TGI em 1991 sobre o funcionamento dos condomínios residenciais na Região Metropolitana do Recife concluiu que, na visão dos condôminos, um dos principais problemas do local onde moram é o vizinho (as crianças dos vizinhos, os descompromissos dos vizinhos, as dificuldades dos vizinhos etc).

    É realmente impressionante observar como é forte a tendência que temos, diante dos problemas que aparecem, de procurar o culpado fora da situação em que estamos, sem nos darmos conta de uma coisa cuja simplicidade chega a ser “revoltante”: para o outro, o outro sou eu.

    Diante desta constatação e partindo da frase de Sartre, é possível construir o seguinte silogismo: 

Imagem 130.jpg

    Parece brincadeira, mas não é. Na grande maioria das vezes, nas situações organizacionais (e, há quem diga, na vida, de um modo geral), só encontramos soluções consistentes quando admitimos ser parte do problema que precisamos resolver. Quando conseguimos entender que somos parte do “inferno”, aceitamos que estamos, também, diretamente implicados nas causas e, portanto, podemos assumir responsabilidade pelas soluções.

    A questão é tão séria que essa simples admissão, por si só, já seria capaz de provocar verdadeiras revoluções na gestão das empresas.

    Resta a quem tem responsabilidade pelo aperfeiçoamento dos processos de gestão das empresas, cuidar para não incorrer pessoalmente nesta armadilha paralisante, aproveitando as oportunidades para desarmar os argumentos de acusação que aparecem pelo caminho e transformam uma simples análise de problemas numa verdadeira “caça aos culpados.”

    Ao mesmo tempo, é preciso estar atento para não dar pretexto de transformar-se num inferno para a vida dos outros e, como” castigo”, para a sua própria.