E se Lula for eleito?

“A vitória de Lula significa o caos para o país.”

Senador Antonio Carlos Magalhães, presidente do Senado Federal

“… não vai acontecer nada. O que o Lula pode fazer de mal para o Brasil?”

Deputado Delfim Netto, economista

Cresce um significativo incômodo no meio empresarial diante da hipótese (hoje ainda remota, apesar dos números das últimas pesquisas) de Lula vir a ser eleito Presidente da República.
Como deve ser feito com todo fato que possa ter repercussões importantes para os negócios, é saudável fazer o exercício de pensar, tão aprofundadamente quanto possível, nas conseqüências (negativas e positivas) decorrentes da materialização daquilo que muitos acreditam ser “a pior hipótese.” Esta prática ajuda a diferenciar o que é fantasia do que é realidade, orienta na tomada de decisões e é uma forma bastante eficaz de evitar tanto a paralisia pelo medo quanto a ação imprópria, impulsionada pela ansiedade, pois “joga luz sobre o desconhecido.” Afinal, os “monstros” são muito mais apavorantes quando estão no escuro.

LULA PRESIDENTE

FACILITADORES

  • Realismo do PT no Executivo:
    A história tem demonstrado que quando assumem cargos executivos os candidatos do PT atuam realisticamente, sem os radicalismos de campanha (lembrar de Luiza Erundina, Vitor Buaiz, Cristovam Buarque).
  • Staff Moderado:
    Lula impôs pessoas de sua confiança no staff da campanha para aceitar a 3ª candidatura à Presidência. São pessoas da ala moderada, dentre os quais Cristovam Buarque, José Dirceu, Marco Aurélio Garcia. Não parecem pessoas de propor loucuras.
  • Não Pode Mexer Muito na Economia:
    Do jeito que está armado o quebra-cabeça da estabilização econômica é muito difícil mexer nisso sem ser com muita calma. Tanto Lula quanto FHC terão que desfazer com muito cuidado essa camisa-de-força.
  • Esforço de Retomada do Desenvolvimento:
    Um governo do PT dedicará muita atenção à questão do desenvolvimento e à criação de empregos.
  • Ênfase no Social:
    Um governo do PT será muito sensível à área social e a políticas compensatórias, um setor meio desprezado pelo governo FHC e que pode penalizá-lo eleitoralmente.
  • Reforço da Democracia:
    A eventual eleição de Lula é um reforço à democracia brasileira, reconhecida pelo próprio Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID): a “última prova de estabilidade é quando você pode ter a esquerda no poder” (Ricardo Hausmann, Chefe de Departamento de Economia do BID).  

RISCOS

  • Disputas Internas no Partido:
    O PT tem várias facções internas que vão da moderação ao radicalismo e lutam vigorosamente pelo poder. Lula é um moderado que, se eleito, terá dificuldades de lidar com os radicais, como o tiveram Erundina, Buaiz e Cristovam.
  • Aliança com o PDT:
    Palavras do Jornalista Elio Gaspari (03.06.98): “um novo governo de FFHH traz muitos riscos, mas todos somados são menores que a presença do engenheiro Brizola a um passo da cadeira presidencial.”
  • Fortes Pressões por Soluções Mágicas:
    As pressões por soluções mágicas ou impossíveis do tipo “distribuição rápida de renda” ou “reversão das privatizações” serão muitas e, apesar de inconseqüentes, terão audiência dentro do governo.
  • Complacência com Alguma Inflação:
    Propostas do tipo “crescimento com um pouco de inflação” serão feitas em profusão.
  • Ameaça de Descontrole:
    omo governo de esquerda (ainda que mais para o centro), Lula terá dificuldades de lidar com as pressões dos movimentos sociais do tipo MST e Sem Teto, com riscos de descontrole na segurança pública.
  • Governo de Minoria:
    O governo do PT será de minoria no Congresso, o que lhe dá, logo de partida, caráter de instabilidade, com elevado potencial de geração de crises.

A análise desse quadro reforça o sentimento de que um eventual governo do PT não encontraria facilidades e enfrentaria riscos importantes de instabilidade sem, todavia, representar nenhuma catástrofe ou ameaça incontornável à democracia e à economia do país.