Cuidado com o caixa

“99 será o pior ano dos meus dois mandatos.”

Fernando Henrique Cardoso, segundo Josias de Souza, Folha de São Paulo 21.09.98, em conversa recente com um de seus ministros

Essa frase atribuída ao Presidente evidencia duas coisas: em primeiro lugar, que já tem como favas contadas a reeleição, apesar da emergência da crise e, em segundo, o tamanho do que está sendo tramado para o próximo ano.
O discurso que fez, “como Presidente”, quarta-feira 23.09.98, serviu para trazer o tema da crise para dentro da campanha da reeleição e preparar o terreno para as medidas que, inevitavelmente, serão tomadas depois de definido o quadro eleitoral, se um repique da conjuntura internacional não obrigar a uma ação antecipada.
Essas medidas projetadas deverão variar em torno de três objetivos dos quais é muito difícil escapar: (1) corte de despesas; (2) aumento das receitas; e (3) desvalorização do câmbio. Trata-se do chamado ajuste fiscal, acompanhado de um pacote financeiro de ajuda internacional e do ajuste cambial.
Caso se confirme o cenário da reeleição de FHC, a seqüência das ações deve ser: (1) resultado da eleição; (2) programa fiscal (corte orçamentário, aumento de impostos e mais reformas a serem aprovadas no Congresso); (3) ajuda internacional, com monitoramento do FMI (segundo estimativa divulgada na coluna de Celso Pinto de 24.09.98, o país precisará, para fechar suas contas em 98 e 99, de R$ 35 bilhões que não encontrará no mercado internacional sem o apoio oficial de organismos como o FMI e o G7 ou do Governo dos EUA); (4) queda dos juros (sem a queda dos juros para níveis próximos aos internacionais não há ajuste fiscal duradouro possível, nem crescimento que se sustente); (5) ajuste do câmbio, mais acelerado do que o praticado até agora (fala-se da necessidade de uma desvalorização da ordem de 15%).
Esse processo todo, na forma em que está sendo esboçado, mesmo contando com a sorte, não leva menos de um ano, daí a frase de efeito do Presidente.
Para as empresas, as conseqüências não devem ser, nem de longe, menosprezadas. É preciso ter claro que o que está sendo preparado não se trata apenas de mais um ajuste na política econômica adotada. Os próprios fundamentos terão que ser revistos. A chamada “aposta” da equipe econômica (sobrevalorização do câmbio + abertura comercial + política monetária apertada + receitas das privatizações + aportes generosos de recursos internacionais), para “ancorar” a estabilização com crescimento econômico foi por água abaixo com a quebra da Rússia. Vai-se seguir um período de desaquecimento econômico com uma muito provável recessão em 99.
O cenário que se desenha para as empresas é, portanto, de aperto financeiro, com juros estratosféricos e queda nas vendas. Alerta Vermelho: TODO CUIDADO COM O CAIXA ! Caixa é o oxigênio sem o qual o organismo empresarial não sobrevive logo que falta.

“Empresa não morre por falta de lucro, morre por falta de caixa.”

Emílio Carazzai, Diretor de Planejamento e Novos Negócios da Bompreçopar S.A., Análise Imediata nº 44, 04.12.95