Procura-se um estadista

Concluída a apuração das urnas, confirma-se o que as pesquisas vinham sinalizando há tempos: reeleição no primeiro turno do Presidente Fernando Henrique Cardoso. A análise deste quadro favorece o entendimento de que, junto com o voto reeleitoral, foi depositada nas urnas a esperança de que o Presidente finalize a obra que deixou inconclusa no primeiro mandato: consolidar a estabilização da economia e colocar o país no caminho irreversível do desenvolvimento econômico e social.
Em outras palavras, que entre para a história do Brasil como um estadista que soube aproveitar a grande chance que o destino lhe pôs nas mãos: aprumar este país ainda atabalhoado, tonto de contrastes e bêbado de possibilidades, no rumo firme de tornar-se uma nação onde valha a pena viver, onde se possa produzir com empreendedorismo e trabalhar com dignidade.
Que o Presidente consiga ser muito mais do que ele próprio foi no primeiro mandato, em grande parte dedicado a conseguir o segundo. Capacidade intelectual não lhe falta, competência potencial também. O que faltou foi mais grandeza. Perdeu-se muito tempo com conversa fiada, sustentando uma situação que só os muito crédulos não viam que não podia acabar bem. Falta de aviso não foi. Primeiro, a crise do México, antes da posse, um poderoso presságio, arrogantemente ignorado. Segundo a crise da Ásia, maior alerta impossível, também tirada por menos depois do sufoco inicial. Por fim, a devastadora crise da Rússia que nos ameaça jogar, se não tivermos sorte e competência negocial, em dias tão terríveis quanto pouco imaginados (vale a pena lembrar o que ocorreu na Indonésia e a na própria Rússia…).
Urge que o Presidente tome as rédeas do destino do país, sem mais perda de tempo! Que não deixe seus dias de chefe da nação se concluírem como uma caricatura grotesca da junção dos tempos de José Sarney com os de Fernando Collor, acrescida de uma pitada de sofisticação da Sorbonne.
Não foi para isso que a maioria do país o elegeu e reelegeu. Foi para ter em quem acreditar, para ter um fiador desse grande passo para a frente, a tanto tempo adiado. E para tê-lo como avalista deste avanço dentro da mais completa normalidade democrática.
Por fim, cabe lembrar as palavras atribuídas a Tiradentes, “aquele herói enlouquecido de esperança” como disse seu conterrâneo, Tancredo Neves, ele sim um estadista atraiçoado pelo destino, ao proferi-las, após ter sido eleito Presidente da República pelo Colégio Eleitoral, depois de mais de 20 anos de regime militar:

“Se todos quisermos, juntos, podemos fazer deste país uma grande nação.”

Sempre nos faltou um estadista para conduzir esta vontade. A bola está, mais uma vez, com o Presidente.