Tentar o impossível

Toda atividade gerencial, mesmo que não percebamos, trafega com freqüência no limite da possibilidade. Ou seja, está quase sempre à beira do impossível. Seja em relação a prazos, seja em relação a metas ou, mesmo, no que diz respeito àquelas coisas aparentemente corriqueiras do dia a dia. É muito comum, diante de uma necessidade, ouvir-se a expressão “desse jeito não é possível” e, por ação gerencial, o impossível terminar por acontecer. Neste particular, o gerente compara-se ao personagem dos versos do poeta espanhol Garcia Lorca.

“Sabe ele que as veredas são todas impossíveis/ e, por isso, de noite vai com calma por elas.”

Garcia Lorca

Mais do que isso, como personagem responsável por fazer com as coisas aconteçam ou, mais precisamente, por fazer com que as pessoas sob sua coordenação façam com que as coisa aconteçam, o gerente vê-se freqüentemente obrigado a instigar seus liderados a irem, eles também, além dos limites convencionais, superando marcas estabelecidas e fazendo mais do que pensavam que podiam.

“Não há pessoas que não sejam capazes de fazer mais do que pensam que podem.”

Henry Ford, citado no livro “O Gerente Instantâneo”, Cy Charney, Record, 1994, Rio de Janeiro

Claro que não se pode defender como atitude gerencial ou empresarial saudável “forçar” a barra de modo permanente, obrigando a todos o contínuo trabalho no limite, numa pressão sem trégua. Nessas condições, seria como querer dirigir sempre em velocidade máxima. Nem os corredores profissionais agüentam. Não há organizações ou pessoas que suportem trabalhar em regime de estresse permanente. Estouram.
Todavia, também não se consegue ir além do convencional, do apenas correto, do simplesmente comum, sem que os limites sejam forçados, pelos menos de vez em quando. Ou seja, não se superam desafios, não se conquista aquele “algo mais” que costumam ser os sonhos sem tentar ir além (do limite; do que é mais cômodo; do que parece, à primeira vista, inatingível).

“Toda experiência histórica confirma esta verdade: o homem não teria alcançado o possível se repetidas vezes não tivesse tentado o impossível.”

Max Weber, sociólogo alemão, 1864/1920, citado por Dr. Murilo Tavares de Melo, presidente do Grupo Olho D’água, Recife

Assim, incorporar esse “compromisso” com o impossível faz parte das responsabilidades gerenciais, sem abandonar, nunca, o compromisso com a realização e, portanto, com a realidade da qual é avalista. Dilema: se ficar no convencional, não ultrapassa os limites; se exagerar na ousadia, perde o vínculo com o real e fracassa, ou corre o risco das conquistas terem custos insuportáveis para a equipe. Mais uma faceta do desafio gerencial, cada vez mais exigente. Esse dilema expressa-se na frase do poeta surrealista francês André Breton.

“Sejam realistas, exijam o impossível.”

André Breton, citado por Rubens Ricúpero, Folha de S. Paulo, 21.02.98