Razões para acreditar

 
No dia dedicado ao trabalho, passadas as comemorações dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil mas ainda sob sua influência, vale uma reflexão: que razões podemos ter para acreditar no futuro do país onde vivemos e trabalhamos, apesar do seu passado de tropeços? Dito de um modo mais direto: dá para acreditar que temos um futuro viável? Uma precaução, de partida: a visão das dificuldades do passado não nos deve cegar para as potencialidades do futuro. Sobretudo, quando elas estão à vista, desde de que olhadas de uma perspectiva que ajude a buscar, hoje, rumos para esse futuro, com a determinação de não esperar mais “outros quinhentos.”.. anos para ver no que dá.
Segundo o economista José Serra (atual ministro da saúde), em artigo na Folha de S.Paulo de 26.02.98, “o atraso brasileiro foi gerado no século passado: entre 1800 e 1913, o PIB por habitante do Brasil estagnou. O dos Estados Unidos, que em 1800 era próximo ao brasileiro, aumentou seis vezes no mesmo período.” E continua:

“… no século atual, até o começo dos anos 80, a economia brasileira foi a que mais cresceu no mundo. Mesmo descontando o crescimento populacional, continuamos na linha de frente, só perdemos para o Japão.”

José Serra

Para o também economista polonês naturalizado francês, Ignacy Sachs, diretor do Centro de Pesquisa sobre o Brasil Contemporâneo, em Paris, em entrevista à revista ISTOÉ de 25.03.98, “nenhum país se compara ao Brasil no que diz respeito ao potencial de um desenvolvimento simbiótico rural-urbano, alavancado pela expansão da agricultura e das agro-indústrias.” Destaca Ignacy:

“A segunda metade do século XX foi marcada pela extraordinária ascensão do Japão. Pelo seu potencial de recursos e pela vivacidade dos seus habitantes, o Brasil é o candidato mais credenciado para repetir essa façanha na primeira metade do século XXI. A condição contudo é de bem aproveitar a maior reserva de terras agricultáveis do mundo, fazendo do mercado interno em forte expansão o alicerce da competitividade sistêmica do país.”

Ignacy Sachs

Esses são dois aspectos fundamentais de considerar quando se olha para o futuro: a grande reserva agrícola e o mercado interno potencial. De fato, segundo Luís Nassif, em sua coluna de 29.12.97, “o país possui a maior extensão viva de terras, a maior disponibilidade de água fresca (15% da oferta mundial), a maior biomassa plantada, a maior biodiversidade (cem hectares da Floresta Amazônica têm mais biodiversidade do que toda floresta temperada da França).” Num mundo com forte demanda por alimentos, esse é um ativo importantíssimo. O outro ativo, pode ser considerado, sem medo, o grande patrimônio do Brasil. Com população estimada no ano 2000 em 170 milhões de pessoas, mais de duas vezes maior do que a da Alemanha, o país tem um potencial de consumo fantástico que cresce à medida que a renda per capita aumenta. Essa é outra razão, além das privatizações, pela qual têm aumentado os investimentos estrangeiros no Brasil.
Apenas essas breves considerações, já seriam um começo à pergunta do primeiro parágrafo. Portanto, não será por falta de alternativas ou potencial econômico que deixaremos de ter um bom futuro para o país. Isso, sem falar nas imensas possibilidades que se abrem com a chamada ” nova economia.” Mas fica no ar uma outra pergunta (que não cabe neste número e será desdobrada no próximo): o que falta para chegar a esse futuro?