Reflexões sobre guerra e paz

Na semana passada eclodiu o mais sério conflito entre israelenses e palestinos desde 1993, quando foi assinado o acordo de Oslo, ocasião em que Israel e OLP se reconheceram mutuamente e estabeleceram um cronograma para construção de uma solução pacífica para a milenar disputa territorial. Muitos avanços foram feitos até que as negociações esbarraram na jurisdição de Jerusalém, cidade sagrada para judeus, muçulmanos e cristãos e reivindicada como capital tanto pelos israelenses quanto pelos palestinos. A disputa pela cidade é um emblema da luta entre os dois povos: não estão dispostos a repartir, pelo contrário, reivindicam a mesma terra, a mesma pedra. Acrescentem-se a isso os radicalismos de parte a parte e têm-se a receita certa para a tragédia.
Resultado: o preço do barril de petróleo que já estava elevado teve, na quinta-feira, a sua mais alta cotação londrina (US$ 35,30), desde a Guerra do Golfo em 1990, no rastro do temor que o conflito se alastrasse e envolvesse os países árabes. No Brasil, o dólar comercial atingiu, na sexta-feira, R$ 1,874 para a venda, maior valor desde dezembro do ano passado.
O economista Edmar Bacha, considerado um dos pais do real, ao tomar posse na Associação Nacional dos Bancos de Investimento, na sexta 13.10.2000, chegou a declarar que se o preço do petróleo atingir US$ 40,00 por barril (o preço considerado internacionalmente como “de equilíbrio” é US$ 26,00 o barril), a inflação passará de 4% para 6% em 2001 e o crescimento do PIB será de 4% e não de 4,5%. Isso inverte a situação projetada pelo governo de, pela primeira vez em 50 anos, o crescimento da economia (4,5%) ser superior ao crescimento da inflação (4%) no próximo ano.
Além dessas implicações imediatas sobre a realidade econômica, o acirramento da situação do Oriente Médio, leva a algumas reflexões sobre a própria natureza das situações de conflito extremado. Já se disse, com propriedade, que “a guerra é o último recurso da política” e de que “quem quer a paz se prepara para a guerra”. Mas sobre o tema já foram ditas, também, coisas construtivas.

“O mais forte é aquele que sabe dominar-se na hora da cólera.”

Maomé, segundo a revista “Sua Boa Estrela”, 126, publicação trimestral da Mercedes-Benz do Brasil

“Ser capaz de resistir ao ódio é a primeira lição a aprender por aqueles que aspiram ao poder.”

Sêneca, segundo Você S.A, março/1999

Depois de alguns dias de conflito, por pressão dos EUA, da União Européia e do secretário-geral da ONU Kofi Annan (que já estava em conversações na região quando a situação se agravou), acertou-se a retomada das negociações com um encontro no Cairo entre o líder palestino Iasser Arafat e o primeiro-ministro israelense Ehud Barak, com a participação do presidente egípcio Hosni Mubarak e o próprio Bill Clinton. Com a torcida para que as negociações sejam retomadas com êxito, duas frases que falam de paz e de atuação política para consegui-la.

“Quem quer a paz não conversa com os amigos, conversa com os inimigos.”

Moshe Dayan, general israelense, no livro “O Gerente Instantâneo”, Cy Charney, Record, 1994, Rio de Janeiro

“Não há paz a qualquer preço, também não há paz sem que se pague um preço.”

Ehud Barak, primeiro-ministro de Israel, Valor Econômico, 27.07.2000