A imagem do aquário se presta bem para representar a realidade empresarial porque é mais ou menos o que a necessidade de sobrevivência obriga: criar um ambiente protegido do exterior para que as coisas possam ser feitas com um mínimo de tranqüilidade.
O dilema está justamente aí. O que protege ajuda a sobreviver no presente mas, também, acomoda, comprometendo a sobrevivência no futuro. Como, então, trabalhar pela sobrevivência no futuro? A resposta foi sugerida no número anterior: inovando. Como inovar? Saindo do aquário. Como sair do aquário? Resposta nova: procurando fugir da rotina.
A rotina é o preço que a empresa paga pelas regras, pela “segurança” dos processos. A rotina é fundamental para a produção mas é incapaz de gerar inovação. Pelo contrário, a rotina abomina a inovação, persegue-a como uma “praga” a ser eliminada. A rotina é fundamental para o presente. A inovação é vital para o futuro.
Há muito o que pode ser feito para instalar uma sistemática de inovação na empresa, para além da rotina do dia-a-dia. Dois bons livros tratam do tema de forma produtiva. Um deles é já um clássico de Peter Drucker: “Inovação e Espírito Empreendedor – Prática e Princípios” (Editora Pioneira, 1985, São Paulo). O outro é uma interessante obra sobre práticas bem sucedidas: “Inovação Pensamento Inovador na 3M, DuPont, GE, Pfizer e Rubbermaid“, de Rosabeth Moss Kanter, John Kao e Fred Wiersema (Negócio Editora, 1998, São Paulo).
Ambos os livros fazem boas abordagens sob a ótica da empresa, dando ao problema uma importante dimensão organizacional. Todavia, é também importante abordar a questão do ponto de vista individual.
Do ponto de vista individual, é fundamental cultivar um constante interesse pelo inusitado, pelo “atalho” que permite um caminho diferente, não necessariamente novo.

“A verdadeira viagem de descoberta consiste não em procurar novas paragens, mas em ter novos olhos.”

Marcel Proust, 1871-1922, novelista francês

Também é importante evitar, do ponto de vista pessoal, que se transformem em doenças os bloqueios mentais citados por José Predebon (no livro “Criatividade Abrindo o Lado Inovador da Mente”, editora Atlas, 1998, São Paulo): Bloqueio 1: Acomodação (doença: “Adequacionite“); Bloqueio 2: Miopia Estratégica (doença: “Umbiguite“); Bloqueio 3: Imediatismo (doença: “Objetivite“); Bloqueio 4: Insegurança (doença: “Egocegueira“); Bloqueio 5: Pessimismo (doença: “Tristezite“); Bloqueio 6: Timidez (doença: “Acanhamentite“); Bloqueio 7: Prudência (doença: “Aventurofobia“); Bloqueio 8: Desânimo (doença: “Despaixão“); Bloqueio 9: Dispersão (doença: “Desfoquite“).
Na prática, três atitudes ajudam muito, todas impulsionadas por “escapes” da rotina: (1) “escape” diário; (2) “escape” semanal; (3) “escape” anual.
Pelo menos uma vez por dia, escape da rotina, tente sair do aquário, fazendo uma coisa diferente, converse com alguém de outra área, observe o trabalho de outro, suba no telhado, olhe o quadro de luz…
Pelo menos uma vez por semana, saia da empresa, converse com clientes, com fornecedores, até com concorrentes, se puder. Deixe o carro e pegue um ônibus ou um táxi. Ande a pé pelo centro da cidade…
Pelo menos uma vez por ano, saia da cidade, viaje para longe, de preferência para o exterior. Leve uma máquina fotográfica de bolso. Olhe as coisas com olhos de turista. Ande muito a pé…
Há muito a ser feito para escapar da rotina e acostumar a mente e o espírito a lidarem com coisas diferentes e prepararem a inovação. Tudo depende da convicção da necessidade, da vontade e de instituir os “escapes” como uma prática sistemática.