Que em 2002 seja possível"criar nessa aventura a nossa vez"

 
Como esse é o último Gestão Hoje do ano, por coincidência editado no dia 31 de dezembro, nós que o produzimos não poderíamos deixar passar a oportunidade de fazê-lo portador de uma mensagem de confiança no futuro e de agradecimento a você leitor que nos acompanha a cada semana.
O ano que termina não foi fácil. Começou muito promissor, sofreu duros golpes como a falta de energia e o espetacular ataque terrorista aos EUA, ameaçou descambar para a mais sombria trajetória, até recuperar, no último trimestre, um pouco do otimismo do final do ano anterior e terminar com o surpreendente desenrolar da crise Argentina e a constatação de que, pelo menos por enquanto, ficamos livres do “contágio” do vizinho.
Foi, de fato, um ano difícil mas foi um ano de lições importantes, sendo a principal delas a de que, pelo menos em termos de desempenho econômico recente, o Brasil sempre se sai melhor que as piores previsões. Foi assim quando houve a desvalorização do real em janeiro de 1999, ocasião em que as piores previsões apontavam para o retorno da inflação na casa dos 50% ao ano. Coisa parecida aconteceu em 2001 quando, no auge do racionamento de energia, o consumo caiu a níveis mínimos e projetou-se um fim de ano tenebroso, sem luz, com inflação e recessão.
Como, mais uma vez, o mundo não se acabou, não é demais concluir que a atitude mais prudente, tanto na economia, como nos negócios (e, por que não?, também na vida) é evitar os desatinos que possam ser cometidos por influência dos exageros de previsão. Realismo, sim, mas, também, confiança na possibilidade de avançar e capacidade para, apesar das dificuldades, ir além dos limites impostos pela visão de curto prazo, influenciada pelas dificuldades que aparecem pelo caminho.
O sociólogo brasileiro, Alberto Guerreiro Ramos, falecido professor emérito da Fundação Getúlio Vargas, um dos pioneiros do estudo da teoria da administração no Brasil, disse certa vez, com muita propriedade, que “o futuro é um campo aberto de possibilidades“. Por certo, o principal, simples mas valioso, ensinamento do ano que acaba é o de que, por mais inesperados e surpreendentes que sejam os fatos, não se deve ficar refém deles, procurando olhar o futuro aberto, adiante.
Por isso, em sintonia com esse espírito de avanço, de ir além, apesar das dificuldades, o Gestão Hoje reproduz a seguir, fugindo um pouco de sua abordagem majoritariamente técnica, um soneto do poeta pernambucano Paulo Gustavo, no livro “A Redenção do Acaso”, edição do autor, 1984.
SONETO DE JANEIRO
Compreendo janeiro: rosto aberto,
Esfinge diminuta do verão,
Enigma claramente descoberto
Às mãos do próprio tempo em combustão.

Faz-se apelo o prever e o ser incerto
Além de algum veludo de perdão.
Onde vamos agora tão despertos
Pela ilhas do mês? (do coração?)

Eis que o tempo se oferta – lumescuro,
Dançando em cada número do mês
A coreografia do futuro…

Que nos resta senão fazer o mesmo,
Criar nessa aventura a nossa vez
E amar em tudo o amor que vem a esmo?

Paulo Gustavo, poeta pernambucano

É justamente isso que desejamos aos leitores que nos acompanharam todas as semanas e todos os meses de 2001: que os próximos dias e meses do ano que se inicia, tragam sempre, como o janeiro do poema, a possibilidade de dançar a “coreografia do futuro” e que, com essa deixa, preservemos o ânimo de “criar nessa aventura a nossa vez”.
Um 2002 bem melhor que 2001!