O país está preparado para eleger,sem traumas, qualquer presidente

 
Como foi antecipado no Gestão Hoje da semana passada (372), o próximo presidente a ser eleito em outubro, seja ele quem e de que partido ou tendência for, na prática, não terá outra alternativa a não ser dar continuidade ao governo FHC, adotando três prioridades básicas: manutenção da estabilidade, retomada do crescimento e inclusão social. Por que?
1.Estabilidade Econômica
Fernando Henrique Cardoso, ao longo dos seus dois mandatos, apesar de algumas idas e vindas e tropeços importantes, deu prioridade absoluta à estabilidade da economia, deixando armado um quebra-cabeças fiscal, impossível de desmontar no curto prazo sem que fique ameaçado de desmoronamento o edifício da moeda estável.
De fato, para que a dívida interna mantenha-se controlada na casa dos 50% do PIB (conforme definido no acordo com o FMI, fator fundamental para a credibilidade do governo e, por conseguinte, para a estabilidade da economia) faz-se necessário um superávit primário (excluídos os juros pagos pelo setor público) de cerca de 3% do PIB.
2.Retomada do Crescimento
No governo FHC, sobretudo no segundo mandato, após a desvalorização cambial, esse superávit (que, na prática, é o cerne do chamado ajuste fiscal) foi conseguido a custa de um grande esforço de arrecadação que fez com que a carga tributária bruta atingisse a marca recorde na história do país de quase 34% do PIB.
Como não será mais possível continuar esticando a corda da arrecadação, pelo aumento de impostos, para financiar o ajuste fiscal e, ainda, gerar os recursos indispensáveis ao combate à pobreza, só resta a alternativa do crescimento econômico.
3.Inclusão Social
Hoje, e nos próximos anos, diminuir a pobreza e promover a inclusão de parcelas significativas da população, mais do que uma questão moral, é uma questão de segurança social. Sem mais inclusão será impossível ultrapassar o medo que se transformou numa marca da sociedade nos últimos anos.
Se por hipótese, pensássemos num terceiro governo FHC, essas seriam, sem sombra de dúvidas, suas principais prioridades. Logo, não há extravagância em dizer que, em tendo que adotar pelo menos essas prioridades, o sucessor de FHC será, também, seu continuador.
Para imprimir uma marca própria, o sucessor terá que construí-la a partir dessas prioridades e não em contraponto a elas. Há, portanto, um programa básico que terá que ser observado pelo próximo presidente.
A propósito, é importante destacar que, em parte por isso mesmo (essa convergência em torno de prioridades econômicas básicas), em parte pelo amadurecimento político da sociedade, hoje, o país está preparado para funcionar normalmente e sem risco de retrocesso, seja qual for o próximo presidente eleito.
Nenhuma das objeções colocadas para os candidatos até então apresentados para a disputa inviabiliza (embora, certamente, não ajude) o exercício da presidência. Nem a falta de experiência administrativa de Lula, nem a visão “paulistocêntrica” de Serra, nem a herança oligárquica de Roseana, nem o neopopulismo de Garotinho, nem o voluntarismo a la Collor de Ciro Gomes.
Depois de terem seus defeitos julgados pelas urnas, nenhum deles que vier a ser eleito poderá escapar, sob pena de uma rápida inviabilização, de seguir a cartilha mínima deixada por FHC nem poderá, claro, fazer o que lhe der na telha. Terá que negociar com o Congresso e agir como um estadista ou, então, estará fora do jogo.
Se mesmo depois disso, insistir em fazer ouvidos moucos às demandas da sociedade, terá por certo, um destino que a história recente reservou aos teimosos e onipotentes. Não há o que temer por isso.