Não caia na armadilhado "preciso de motivação"

 
Enquanto a crise econômica dá um “refresco” e se abranda um pouco, vale a pena aproveitar a trégua para discutir um tema muito comum nas organizações, sobretudo em épocas de instabilidade: o famoso problema da “motivação”.
Toneladas de papel e rios de tinta já foram gastos tratando desse assunto tão polêmico quanto recorrente nos dias atuais. Se fosse possível sintetizar uma fórmula e produzir um “tônico” que, após ingerido, enchesse uma pessoa de “motivação”, teríamos, sem dúvida, a receita comercialmente mais bem sucedida de todos os tempos. Infelizmente, essa fórmula mágica não só não existe como nunca será inventada, apesar dos depoimentos em contrário, por uma razão muito simples: motivação não é algo que venha de “fora” para “dentro”.

“Toda a atividade humana está motivada pelo desejo e pelo impulso.”

Bertrand Russel, 1872-1970, filósofo britânico

Motivação é uma “força” interior que, a rigor, não pode ser transmitida por ninguém. Portanto, não se deve cair na tentação de prover “motivação” para outro nem, muito menos, ficar refém de demandas do tipo “não estou produzindo como deveria porque estou desmotivado”. E mais, não se deve ter contemplação com esse tipo de atitude.

“Uma pessoa desmotivada numa posição-chave pode lhe custar milhões de dólares.”

Daniel P. Weadlock, ex-presidente da ITT Europa

O que se pode e deve fazer, sempre, é propiciar as melhores condições possíveis para que possa “florescer” a motivação. Como quem prepara um terreno para torná-lo propício ao cultivo, aquele que é responsável pela gestão de pessoas com objetivos produtivos, tem a obrigação de zelar por um “campo” preparado e “adubado” para que a “semente” da motivação possa “germinar”.
Não existe, também, uma receita definida para isso. Uma coisa, todavia, é importante não esquecer: tanto o “campo” deve estar adequadamente preparado quanto a “semente” deve ter “latência” suficiente. Semente boa não se desenvolve bem em campo ruim nem campo bom proporciona bom desenvolvimento de semente fraca.
Para catalisar essa ação preparatória, é fundamental cuidar da transmissão de um desafio, de algo mobilizador, que leve as pessoas a se sentirem estimuladas à superação. Em suma,é fundamental exercer a liderança mobilizadora.

“Se pudesse resumir toda a complexidade que envolve liderança a uma idéia seria a de que liderar é transmitir um sonho. É preciso inspirar as pessoas a chegar a um lugar em que elas ainda não estão.”

Henrique Meirelles, ex-presidente do BankBoston

Se o estímulo adequado for dado, as motivações potenciais serão “disparadas” e exercerão suas possibilidades. Às vezes, porém, necessário se faz uma ação mais incisiva. Um exemplo de sala de aula ajuda.

“Eu fui professor e os alunos chegavam de manhã, bem cedo, cheios de sono e corriam o risco de adormecer. Aprendi a importância da concentração, da motivação e dos desafios. Aprendi a contar cronologicamente uma história (…) É isso que mantém as pessoas interessadas, atentas. É necessário ter em conta as motivações humanas por trás da história.”

Stephen E. Ambrose, historiador inglês

Contar uma história que seja mobilizadora, transmitir um sonho que seja estimulante são mecanismos facilitadores mas, é bom não esquecer, não são substitutos da motivação em si. Portanto, cuidado. Não aceite o argumento de que a motivação precisa ser “dada”. É uma armadilha das grandes.