Três cenários econômicospara o Brasil no próximo ano

 
No momento em que a disputa pela Presidência da República corre solta para a decisão do primeiro turno em 06.10.2002, a crise econômica arrefece e a turbulência diminui, pelo menos por enquanto. Não chega a ser um consolo, mas houve uma melhora do quadro como destaca Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central.

“O clima melhorou. Há um mês vivíamos o pânico. Hoje, vivemos só as incertezas.”

Gustavo Loyola, Folha de S. Paulo, 14.09.2002

Independente de quem vier a ganhar a disputa e tornar-se o próximo presidente, a pergunta que todos nos obrigamos a fazer é: o que vai acontecer com a economia em 2003? Não há uma resposta precisa possível mas as empresas já começam a trabalhar com três alternativas de cenário: uma pessimista (caminhar para uma situação semelhante à da Argentina), uma “neutra” (acontecer uma espécie de continuação do governo FHC) e uma otimista (suceder algo semelhante ao que ocorreu com a Coréia, em 1998, que saiu bem da crise após acordo com o FMI).
1. “Argentinização
Nesse cenário, a situação se deterioraria a ponto de trilharmos um caminho semelhante ao da nação vizinha. Crescimento do PIB nulo ou negativo, câmbio próximo de R$ 4,00, inflação acima de 10% e juros na casa dos 18%. As dificuldades de financiamento da dívida pública seriam crescentes e o crédito externo permaneceria estrangulado.
2. “Fernandenriquização
Nesse cenário, o quadro apresentaria uma recuperação gradativa mas lenta. Crescimento do PIB na casa dos 2%, câmbio próximo de R$ 3,00, inflação abaixo dos 10% e juros lentamente declinantes. A dívida pública seria financiada sem maiores problemas e o crédito externo voltaria, aos poucos, ao seu nível de normalidade.
3. “Coreização
Nesse cenário, iniciar-se-ia uma recuperação vigorosa. Crescimento do PIB na casa dos 4%, câmbio abaixo de R$ 3,00, inflação abaixo dos 10% e juros rapidamente declinantes. Desapareceriam os problemas de financiamneto da dívida pública e o crédito externo retomaria os níveis altos verificados no período 99/2000.
A caracterização do cenário 3 (“Coreização”) justifica-se pela similaridade da situação atual do Brasil com a ocorrida em 1997 na Coréia. Naquele ano, o país enfrentava uma campanha eleitoral que coincidia com o auge da crise asiática, com reflexos muito severos sobre a economia. Antes da eleição, foi fechado um acordo de R$ 30 bilhões, capitaneado pelo FMI, que o novo governo, assumido em 1998, honrou. Cinco anos depois, resultado de um bem sucedido esforço nacional, a Coréia está recuperada, com um crescimento econômico superior ao dos seus vizinhos.
Um alerta apenas: como não há nenhuma forma científica capaz de estabelecer, com qualquer grau de precisão, a probabilidade real de ocorrência desses ou de qualquer outro cenário (a não ser com base em pesquisa de opinião, ou seja, no palpite das pessoas, o que, também, não garante muita coisa), o importante é tratá-los como referências que ajudem a raciocinar sobre o futuro. A esse respeito, vale lembrar a boa frase do físico e consultor Clemente Nóbrega:

“Já que é impossível prever com exatidão, a idéia deve ser: esteja preparado para qualquer futuro.”

Clemente Nóbrega, Exame, 25.03.1998

 

Correção
Por um lapso, no número anterior, o nome do presidente João Goulart saiu inadequadamente grafado “Goulard”. João Belchior Marques Goulart , Jango como era popularmente conhecido, nasceu na cidade gaúcha de São Borja em 1918. Assumiu a Presidência em 1961, aos 43 anos, por conta da renúncia de Jânio Quadros, de quem era vice. Foi deposto pela revolução de 64 e morreu no exílio, em 1976, na cidade de Mercedes-Corrientes, Argentina.