Sobre a importânciaestruturadora do trabalho

 
No Gestão Hoje anterior, a frase do dramaturgo Mário Prata sobre o segredo do sucesso, dá o que refletir quanto à importância do trabalho em comparação com os demais requisitos por ele apontados:

“Trabalho, trabalho, trabalho. Seriedade, uma boa dose de humor e ter prazer no que faz.”

Mário Prata, escritor brasileiro

Da sua frase se depreende que, para ter sucesso, é preciso muito trabalho. Uma conclusão muito parecida com a do escritor e humorista Millôr Fernandes, quando perguntado se o talento foi a razão do seu sucesso:

“Eu trabalhei a vida inteira e todos os dias. Talento é trabalho. Principalmente trabalho.”

Millôr Fernandes, Continente Multicultural, 12/2001

A Psicossociologia, pela mãos do pensador francês Eugène Henriquez chega, mesmo, a colocar o trabalho como um dos três eixos estruturadores da vida humana, dando-lhe a dimensão da produção. Os outros dois eixos são o amor (o desejo) e a morte (o limite). Ou seja, o que estrutura a nossa ação, ainda que não tenhamos consciência disto, são a certeza do limite e da finitude, o desejo (sobre o desejo ver o número 230) e a transformação produtiva da natureza (o trabalho).
Se a isso acrescentamos a dimensão da dignidade, reforça-se a importância crucial do trabalho como componente estruturador da nossa personalidade. A ponto de sua ausência (que tem como expressão econômica o desemprego), constituir-se algo socialmente desastroso e motivo de preocupação dos homens públicos responsáveis.

“O desemprego é um acidente econômico que machuca fundo a dignidade humana.”

Jonh F. Kennedy, 1917-1963, presidente dos EUA

Tanto do ponto de vista pessoal, quanto social, a importância do trabalho, portanto, é muito grande. As pessoas que não trabalham, por qualquer razão que seja, terminam por ficar incompletas, para dizer o mínimo. Ficam sujeitas às forças muitas vezes incontroláveis do não profissionalismo.
Normalmente, as pessoas que não trabalham ficam amargas ou pessimistas. O tipo de pessimismo que o próprio trabalho redime, conforme conclui Onassis:

“O pessimismo é uma doença que deve ser tratada como qualquer outra. O objetivo é melhorar o mais rápido possível e voltar ao trabalho.”

Aristóteles Onassis, 1906-1975, armador grego

Evidentemente que, com essas observações, não se pretende aqui a defesa intransigente do trabalho pelo trabalho, ou do trabalho como idolatria. Mas, sim, do trabalho como instância estruturadora, na perspectiva de que nos fala Henry Ford:

“O melhor trabalho da fábrica não é fabricar produtos. O melhor trabalho da fábrica é fabricar homens.”

Henry Ford, 1863-1947, industrial norte-americano

Isso porque, hoje em dia, há uma espécie de contestação ao que se convencionou chamar de idolatria do trabalho, conforme define Domenico De Masi. Ideólogo deste movimento:

“A idolatria do trabalho, na maioria dos casos, é apenas uma inútil escravidão psicológica.”

Domenico De Masi, sociólogo Italiano

Sem o exagero da escravidão psicológica, a verdade é que o trabalho, na sua justa concepção, constitui-se, na sua dimensão produtiva – de eixo estruturador – em algo essencial e de impossível substituição. Daí, a importância de, no plano individual, fazer o possível para que ele seja o mais prazeroso possível e, no social, para que seja um direito do maior número possível de pessoas.